quinta-feira, 26 de julho de 2007

A Balada da Bolete Bolada


- Dá pra eu dormir na tua casa hoje? Qualquer sofá serve. Tô com medo de voltar pra minha.
- Vígi, por que?
- Porque o sonho da mamãe era ser bolete.
- Ahm, isso vai ser interessante.
- Bolete, sabe? Aquelas mulheres lá que dançavam trepadas em poleiros, no programa "Clube do Bolinha".
- Mas que cisma foi essa justo com as boletes? Não era mais chique ser chacrete nessa época?
- Mamãe não gostava das chacretes. Achava as boletes muito mais autênticas.
- Ah.
- Verdadeiras artistas, entende?
- Sério? Pra mim, parecia um bando de semi-coroas buchudas que rebolavam meio troncho, de um lado pro outro, com penas enfiadas na cabeça e celulites enfiadas em maiôs ridículos. Sequer se davam o trabalho de sorrir pra câmera.
- Aí é que está a autenticidade.
- É. Faz sentido.
- Daí diz que tinha um maiô de bolete original à venda no Mercado Livre. A velha ficou doida e pediu pra eu comprar, que ela pagava o que fosse pra ter um. Mas eu esqueci e quando fui lá no site já tinham comprado.
- Chato, não?
- Chata vai ficar a minha cara se eu voltar pra casa e encarar a velha. Ela tá completamente despombalizada do juízo e falou que vai me encher de porrada, porque eu fiz ela perder o maiô dos sonhos dela. E aí, vai dar pra eu dormir no teu sofá ou não?
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Às 10 da noite de uma quarta-feira, resolvi nunca mais reclamar de problemas comuns.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

"Você Nasceu Para Voar". Nem que seja aos pedaços.


O slogan da TAM é bem a cara da atual situação do transporte aéreo no Brasil. De fato, você nasceu para voar. Depois de dias numa fila, mas voa. Pagando a passagem em doze vezes, sendo desrespeitado, não relaxando e muito menos gozando, mas voa. Transformado em fumaça, mas, ah! Voar, você voa.

Trocentos cadáveres numa tragédia anunciada e todos os possíveis porquês só servem pra nos deixar com ainda mais vontade de voar - nos pescoços desse bando de assassinos filhos duma puta. Mas gente, a culpa também é nossa. Vamos entender o lado deles. Ah, a pista tava molhada e não tinha ranhuras suficientes para drená-la e evitar aquaplanagem? Da próxima vez, a Infraero chama os tiozinhos da limpeza pra ir lá passar um rodo, aí tudo bem, né? Tá certo, o avião também tava meio escangalhado e voando na marra, mas e daí? O avião tava na garantia, ainda não tinha quilometragem suficiente pra ir pra revisão - nem ia dar pra descolar um descontinho, daí imagina o prejú no bolso dos pobres donos da companhia aérea, tadinhos! Como é que eles iam adivinhar que uma simples turbina com defeito pudesse fazer o avião cair? Ah, povinho sem paciência! Quando não tem vôo, reclamam. Quando liberam vôo nas coxas, reclamam. Que saco.

A culpa dessa crise toda não é das empresas de transporte aéreo, gente. Nem da Infraero. Nem mesmo dos ceguinhos do Sindacta. A culpa é da gravidade. Avião não é seguro. Vamos ficar quietinhos mais uma vez, sem reclamar. Nos conformemos em saber que bom mesmo é viajar de canoa - que bóia. E se afundar, você aprende a nadar e pronto. Aprender a voar sozinho é que não dá. Até mesmo carro é mais confiável. Deu prego? Pior é no céu, que não tem acostamento. Bateu? Pelo menos você tem a quem culpar.

Avião, não. Com avião, dependendo da quantidade de pecados (seus e da companhia aérea), você vai pro Céu e já fica por lá mesmo: São Pedro sequer tem o trabalho de ligar o elevador. É uma experiência metafísica, religiosa até: do inferno dos aeroportos para o paraíso dos plantões de notícias em milésimos de segundo. Despedir-se da família antes de viajar fica ainda mais emocionante: você não sabe se vai voltar a vê-los mesmo, então dá-lhe sentimentalismo. Eu acho lindo. Mas, só por garantia, já programei minhas próximas férias: um passeio ecológico. Nunca houve tanta procura por pacotes de caminhada nas agências de turismo...

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Bizarro na Banca

Jornalismo pra quem não agüenta mais jornal

O governo aumentou para 25% a concentração de álcool na gasolina. Considerando que a maioria dos donos de postos ainda "temperam" a mistura com água, óleo e outras coisas que é melhor nem saber, imaginemos quanto de gasolina ainda resta na gasolina.
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Renan Calheiros continua afirmando inocência. Diz que já apresentou defesa e alega uma tentativa, por parte da imprensa, de "assassinar sua honra". Ué, mas ela não morreu de parto?
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Estudo diz que banana reduz depressão em mulheres. E Bizarro Kid é ameaçado de processo caso faça piadinhas grosseiras e infames com um tema desses.
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Aeronáutica volta a suspender vôos em São Paulo. "Relaxa e goza", disse a Marta. Haja tesão pra passar mais de oito horas gozando na fila de embarque.
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Assaltantes fazem dezenas de reféns em festa de São João na Zona Norte de Recife. Era uma quadrilha. (rá, rá, rá.).
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Aí eu pergunto: vale a pena escrever sobre temas "sérios" no blog?

Também acho que não. Voltemos à programação normal.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

"Poltergeist" encontra "Psicose": o banheiro bizarro e suas luzes maravilhosas.


- Sêo Bizarro?
- Hã.
- O Ralo do seu banheiro tá acendendo.
- Cumequié, mulher de Deus?
- Tá acendendo, sêo Bizarro. Eu fui lavar o box e tinha uma luzinha piscando lá de drento, assim a modo que nem se uma lâmpida tava acesa lá no fundo. O sinhô mandô instalá uma lâmpida drento do ralo?
- Acredito sinceramente que não, Dona Ana.
- Intão acho melhor o sinhô mandar alguém ir lá ver que negócio isquisito é esse, que eu num vô lavá o banheiro cum aquele treco alumiando lá, não!

A pergunta que eu me faço nessas horas é: "por que eu?" Diaristas zelosas normais procuram seus patrões pra reclamar que o gás acabou, que o teto tá com goteira, que a torneira tá vazando ou que o poodle da vizinha cagou no tapete da porta. Mas, obviamente, encontrar uma diarista normal que topasse trabalhar lá em casa seria pedir demais.

Como a gangue do Scooby-Doo tava ocupada e deve haver pouquíssimos encanadores-eletricistas especializados em fenômenos domésticos paranormais dando sopa por aí, sobrou pra mim ficar de plantão, numa das minhas poucas noites de folga, dentro do box do banheiro, à espera de um luminoso contato imediato por parte do tal ralo-ovni. Quem sabe, né? Vai que alguma entidade mística do plano superior, que curta um lance mais alternativo na hora de manifestar-se fisicamente (só pra zoar com a vida alheia, é claro) tenha escolhido justo o ralo do meu banheiro para fazer uma revelação absurdamente bacana sobre a vida, o universo e tudo mais.

Bem na hora em que o Daniel ia largar uns tapas no meio das fuças da Taís (eu liguei a TV com volume no talo, pra ouvir a novela), o raio do ralo realmente acendeu e quase me matou de susto. Aí eu saquei que a pobre da Dona Ana tinha razão de ficar preocupada: ela é crente, e deve ter achado que ralo piscando era coisa do demo. Eu mesmo revi minhas convicções religiosas naquele momento: decidi fundar um culto no banheiro e cobrar dízimo dos fiéis que viessem ali, buscar iluminação espiritual e higiene pessoal de uma tacada só.

Mas a questão era bem mais ordinária do que parecia: depois de um papo com o vizinho de baixo, soube que ele tinha feito uma reforma no banheiro e mudado a saída do bucal da lâmpada de lugar. Mas a coisa não tinha sido muito bem-sucedida: vazava luz do banheiro dele pro meu e água do meu banheiro pro dele. Frustrado, decidi não dar mais trela pra diaristas superticiosas ou fenômenos domésticos não-catalogados nos Arquivos X. E assim que a TV parar de transmitir mensagens de gente morta, eu volto pra minha novela.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Vígi! É aniversário do Bizarro!



E lá se vão 28 anos - com cara-de-pau de 18, maturidade de 12 e corpinho de 106.

Alguém faça alguma coisa!

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Isso sim é Inclusão Digital!



Essa quem aprontou foi uma tia do Bizarro, que também é lá meio despombalizada do juízo (a genética é poderosa).

Em tempos idos, ela era professora de português-barra-literatura e dava aula para turmas do antigo segundo grau (que mudou pra ensino médio mas, aparentemente, não melhorou porra nenhuma) no Colégio Badernante (o nome verdadeiro obviamente não era esse, que eu não quero ser processado, mas era beeeem parecido). Pois tá.

Titia Bizarra só tinha alunos anormais e delinqüentes, em sua maioria repetentes, e desenvolveu um método bastante único para conseguir enfiar alguma coisa de útil na cachola deles. Dava tão certo que ela virou referência como "disciplinadora" no segundo grau. Mas, claro, uma hora tinha que dar merda. E nem demorou muito: belo dia, a fessorinha do primário precisou faltar - justo no horário da turma mais encapetada da terceira série - e não tinha ninguém pra substituir. "Fácil! Chama a Tia Bizarra pra passar matéria pros curumins, ela tá com um tempo livre mesmo..."

E lá vai Tia Bizarra - que, convém acrescentar. não morria de amores por crianças. A missão era simples: aplicar uma redação que a professora titular havia deixado e depois liberar os trombadinhas, conforme fossem terminando a tarefa.

No início, tudo bem: Tia Bizarra mal entrou na sala e foi logo largando um esporro profilático, só pra deixar bem claro que ela não tava muito a fim de aturar pentelhação de pirralho. A turma entendeu o recado e ficou quietinha pra receber a lição. No que tá todo mundo lá, de pescoço virado pra baixo, brigando com a folha de papel pra ver se saía alguma coisa na tal da redação, uma menina da penúltima fila quebra o gelo com uma sonora e não muito sutil denúncia:

- FESSORAAAA! O PAULINHO ENFIOU O DEDO NO MEU CU!

A turma inteira gargalhou diabolicamente, ao mesmo tempo que o sangue sumia das estáticas e abismadas fuças da Tia Bizarra. "Não", pensou ela horrorizada, "eu devo ter entendido mal... melhor deixar pra lá" - e ficou na dela. Não deu outra: meio minuto depois, a mesma menina solta novo berro contra o assédio grosseiro e indesejado vindo da fila de trás:

- AAAAI, FESSORA! O PAULINHO ENFIOU DE NOVO O DEDO NO MEU CU!

Aí já era demais. Tia Bizarra levantou-se e, em meio a novo coro de gargalhadas daquela não muito sensibilizada turba de capetas, foi lá e passou um belo pito no curumim tarado - com direito a puxão de orelha "discreto" e ameaça de expulsão. E voltou pra mesa, já profundamente arrependida de ter aceitado aquele fardo de professorinha postiça.

As coisas permaneceram calmas por, digamos, dois nanossegundos: nem sentou na cadeira, Tia Bizarra ouve novo protesto - esse ainda mais alto que os anteriores - da mesma pobre menina barbarizada:

- AAAAAAAAAI, FESSOU-RAAAA! ELE AGORA INFIÔ FOI DE TRÊS DEDO NO MEU CU! QUASE RASGOU MINHA SAIA!

Houve um daqueles momentos mágicos em que o tempo parece parar. Tia Bizarra, fogo saindo das ventas, girou os calcanhares e foi andando bem devagar em direção àquele verdadeiro demônio sexual imberbe. Ignorando os berros e bolinhas de papel da turma já descontrolada, agarrou o tipinho pelo cangote e o arrastou até o canto da sala.

- "Muito bem!", gritou ela para a turma, que imediatamente voltou ao silêncio, já adivinhando que o caldo ia engrossar. "Já que o senhor Paulinho gosta tanto de cutucar as coleguinhas, ele vai ficar aqui de castigo, de cara pra parede, até o final da aula!"

Os anjinhos voltaram-se pros cadernos, tristemente, achando que o show tinha acabado.

Mas não tinha.

- "E vocês aí!", soltou Tia Bizarra, ainda com pimenta nos olhos, "Não voltem pras carteiras ainda não. Façam uma fila aqui atrás: CADA UM VAI DAR UMA DEDADA nesse moleque, pra ele ver se é bom..."

Ah, pra quê. Aquela ordem foi como soltar carniça pra urubu: os demoniozinhos entraram num frenesi dedilhante de assustar até os hóspedes mais influentes do Puraquequara. Que fazer fila, que nada: todos voaram em matilha pra cima do agressor, agora transformado em vítima da fúria pré-púbere coletiva. E foi dedada, dedada, dedada, dedada...

Tia Bizarra, já completamente sem controle da situação, berrava inutilmente pra tentar parar o linchamento digital, mas era tarde demais: só se ouviam os ganidos desesperados do tal Paulinho, as mãozinhas em garra tentando abrir caminho, buscando inutilmente fugir de zilhões de dedinhos furiosos que partiam de todas as direções. Já rolava até brigas paralelas, de "coleguinhas" que haviam distribuído sua devida cota de dedilhações, mas queriam mais - e empurravam os outros que ainda não haviam participado da festa. Quando as mãos não alcançavam o alvo, começou o vale-tudo: pés, canetas, livros de matemática enrolados, qualquer coisa que alcançasse o sublime objetivo da punição esgarçante: detonar o traseiro do colega.

Tia Bizarra, à força de ajuda externa, conseguiu interromper aquela verdadeira pena de morte moral. No dia seguinte, os pais do linchado invadiram o colégio com natural fúria apocalíptica. Mas Tia Bizarra, que já havia explicado direitinho a situação para seus superiores, foi poupada - recebendo como castigo exemplar uma semana de suspensão (fazer o quê, se não tinha como contratar professor substituto com a miséria que pagavam pra ela?). -"Ora!", protestou-me depois a parenta, se achando injustiçadíssima, "eu falei que não tinha jeito com criança... mas pensa bem, Bizarro: eu duvido que esse moleque vá dar dedada em alguém de novo nessa vida. No fundo, a lição valeu!".

Pois é, Tia. A "lição" certamente penetrou lá no fundo - e bota fundo nisso. Tenho certeza de que, mesmo que esse coitadinho volte a andar normalmente, vai rever seriamente suas táticas de aproximação sexual. Ah, vai.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Faça você mesmo a sua macumbinha


E numa certa concessionária chicosa aqui de Manaus aconteceu o seguinte:

- Ô, Tonho? Lembra daquele matuto que chegou aqui arrastando chinelinho e a gente empurrou pra você, porque ninguém mais queria atender?
- Claro que lembro. Ele comprou duas picapes à vista e vocês tomaram no cu.
- Pois não é que o cara gostou tanto do teu atendimento que até resolveu te mandar um presentinho?
- CACETA! Mandou, foi? Cadê?!
- Tá lá no estacionamento... mas vai logo lá, que se o gerente souber, vai dar merda...


O vendedor "sortudo" foi lá, rindo até os cabelinhos do ouvido: faturar uma nota em comissão e ainda ganhar presentinho não é coisa que acontece todo dia. Mas logo ficou desconfiado ao ver os outros vendedores (os que tomaram no cu) se espocando de rir. Na entrada do pátio da concessionária, um caminhãozinho baú pra lá de requenguelo e o ainda mais requenguelo dono do caminhãozinho esperavam por ele.

"Tu que é o ´sêo` Tonho?", perguntou o tipo entre as brechas dos dentes ausentes. "Sou...", respondeu o vendedor, sem muita convicção. "Então tem uma incumenda aqui que mandaru pro sinhô". O caminhoneiro deu a volta na lataria desbeiçada, decorada com um nada discreto "FAIZ-SI FRETI" vermelho, e abriu o baú.

Dois bodes responderam "BÉÉÉÉÉ!!!" lá de dentro.

"ISSO é a encomenda? Só pode ser piada!"
"E eu tenho cara de palhaço? Trata de pegá logo esses bode, que só me pagaru frete de ida e esses dois fidido disgraçado me cagaru o baú todo!"

A essa altura, metade da folha de pagamento da concessionária já havia se aglomerado pra rir da cara do pobre vendedor (puro despeito, é claro). E ele, coitado, torcendo o nariz para o nada agradável aroma do presente incoveniente. Mas como o dono do caminhão não queria saber de acordo e tinha outras encomendas para atender, o jeito foi arrastar o par caprino pra fora e amarrá-los num cantinho lá do pátio até decidir que fim dar a eles. Sugestão não faltou...

"Empurra pra algum cliente. Diz que é promoção."
"Ah, claro! Compre uma Wagon Off-Road Super Luxo e leve emplacamento, tanque cheio e um par de bodes no porta-malas! A matriz vai comer meu fígado, porra!"
"Ah, são tão bonitinhos, Tonho... leva eles pro teu quintal!"
"E COMO eu vou enfiar dois bodes num quintal que mal cabe uma galinha, mulher? Ainda por cima, bode PRETO! Credo! Que DIABO eu faço com isso?"
"Já que cê falou no diabo... Bode preto é uma beleza pra fazer despacho! Corta a cabeça deles e enterra no quintal da concorrente..."
"DEUS que me DEFENDA! TU TÁ DOIDO de achar que eu vou fazer uma barbaridade dessas?
"Ué, tá com pena da concorrente?"
"TÔ COM PENA É DO BODE!"


O resto da história eu não sei. Uns dizem que os bodes viraram bingo no Rancho Country. Outros dizem que os bichinhos viraram buchada com farofa na Noite Paraense do Antares. Há ainda quem diga que eles tão nos classificados do Maskate, pra quem quiser comprar.

Mas se eu fosse vendedor da concorrência, ficaria tentado a ordenar uma escavação no quintal - caso detectasse uma súbita despencada nas vendas. O poder das sugestões malignas é algo assustador...

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Maré Marrón


Dona Natureza faz linha "I-Love-You-Mas-Num-Fresque-Não". Ela quando se emputece dá de palmatória envernizada, meu povo. E não tô falando só de furacão Katrina ou outras catástrofes mega-tô-ferrado que a gente anda levando de troco, por conta do aquecimento global. Às vezes a vingança é das miúdas, mas mesmo assim causa estragos - nem que seja no orgulho.

Sêo Firmino cagou no rio. Pai de família respeitável, homem honesto, trabalhador, todo domingo com hóstia na língua. Mas cagou no rio. "Veio uma daquelas finas, não deu pra segurar!", tentou se desculpar ele depois da feita. Arrã. Mas não teve jeito: o rio contra-atacou e todo mundo viu. Se a cólica não matou o velho, a vergonha quase deu conta do trabalho.

Foi a modo assim: tava lá seu Firmino com a família no banho. Tinham uma lanchinha e volta e meia se picavam pruma dessas prainhas que se formam, aos montes, nesse nosso imenso rio Negro abençoado de Deus. Foi num desses momentos bubuia, em pleno riozão e meio afastado da beira, que - segundo consta - acometeu-lhe piriri dos brabos. Sêo Firmino olhou prum lado, olhou pro outro - a patroa distraída lá na areia, brincando com os netos - e ele pensou: "Vai ser aqui mesmo, ninguém vai nem notar...". Daí foi arrear o calção pro lado e Plop! Plop! Plop!, despejar nas águas até então limpíssimas uma verdadeira artilharia de torpedos marrons, que logo projetaram-se lépidos e fagueiros rumo à superfície.

Ah, mas não prestou. Assim que a merda subiu, veio banzeiro. Dos fortes.

Sêo Firmino se afastando da merda recém parida e o rio mandando a merda de volta ao emissor. E foge a nado, e a merda vai atrás. Vira, bate as mãos pra frente, e o toletão lá, atacando insistentemente. O esforço já fazendo o velho bufar, o desespero de fugir da bosta perseguidora deixando o homem agoniado, e foi dando uma cãibra... a essa altura, a tentativa de uma cagada aquática discreta já tinha ido literalmente por água abaixo: a cena era de fazer "Tubarão" parecer um filme da Disney. Mas lá na beira os netos do sêo Firmino, que já tinham dado conta da coisa, tavam era achando graça. Vibravam, feito torcida, com aquele nado sincronizado improvisado entre um ser humano e seu subproduto menos nobre.

Quem coroou esse momento tão sublime foi a esposa do sêo Firmino. Mulher daquelas despachadas, pôs as mãos nas largas ancas e ficou olhando, séria, por uns 5 minutos antes de esculhambar geral:

- "MUITO BONITO!", berrou ela - imediatamente chamando atenção dos poucos (e infelizes) banhistas ali presentes que ainda não tinham percebido a situação. "- UM HOMEM DESSA IDADE BRINCANDO COM MERDA!"

Sêo Firmino só não procurou um buraco aquático pra se afundar de vez porque antes cagado e humilhado que afogado. A vingança do rio foi simples, mas o trauma certamente vai ficar pro resto da vida.

Mas, falando francamente: que bom que nem sempre a Mãe Natureza é uma bruaca assim tão rancorosa e vingativa. Se ela adotasse tal comportamento como padrão, devolvendo toda merda que recebe, nossa espécie já teria sido dizimada.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Baú Bizarro: Tchaca-Tchaca naftalinado!

Promessa é dívida: como parte das comemorações pelos três anos de bizarrices, tá aberta a sessão "Baú Bizarro" - onde vão figurar, de quando em quando, besteiradas clássicas de versões anteriores do blog. Começando por essa aqui: uma das primeiras (e mais longas!) colunas do nosso rato-de-festa preferido!

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Corre, cabocada, que o rato voltou!

Pobre não tem nada, mas é tudo!

Esnobando um impecável bronzeado naquele tom mormaço-na-laje-do-São-Raimundo, depois das longas férias no badaladíssimo Lago do Canaçari (sorry, Hamptons!), eis que ele está de volta! Tchaca-Tchaca, o Rato mais Hype dos igapós de Manô, reassume sua coluna anti-social no laureado alfarrábio do chefe Bizarro Kid! Para alegria da reculhamba de plantão, ele volta com o dicionário de caboquês atualizadíssimo e mais cheio de novidade que artista parintinense voltando do carnaval no Rio. Se joga, maninho rato!

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Se Joga! Se joga em terra alheia!

Foi a modo qualquer coisa de paidégua o rasga-velha da Nhanhá Palmira lá no Suvaco da Cobra! Tinha de tudo na randevú da hostess mais badalada da novíssima comunidade Vila da Carbrás: caldo de bodó, guisado de paca com colorau, maniçoba com leite de amapá e - pasmem! Até buchada, iguaria finíssima nos dias de hoje (em que o Fome Zero não faz nada pra coibir o aumento abusivo da cotação do bode no mercado).

Nhanhá Palmira, que além de anfitriã das mais finas é também a honorável matriarca de uma igualmente honorável família de posseiros santarenos, partiu para o Pará de seu berço - provisoriamente, é claro - e promete retornar de lá na primeira frota de rabetas, carregando debaixo da asa um número de parentes suficiente para abarrotar 3 presídios do Puraquequara e 2 Vivaldões em dia de show da Calypso. E vem todo mundo pra ficar, pois como diz a própria Nhanhá, "Terra Boa é Aqui! Ninguém aparece pra derrubar nosso barraco!" Isso é que amor por Manaus!

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“Fecho os olhos pra não ver passar o rato...”


"Tira o pé do chããããão!!!" - Mas tira MESMO, manazinha!

Tchaca-Tchaca não confirma nada, mas a rádio-corredor é cruel: abismada, uma assídua leitora passou mensagem pro meu pre-paid cell só pra dizer que apareceu uma ratazana, daquelas criadas com fubá, bem no meio do bafafá Axé-Vip promovido pela Amazônia Selo-Lá na prainha daquele hotel wild-chicoso (que vocês já sabem qual é). O mucurão bombado apavorou geral na tertúlia dos bacanas e teve gente dizendo que era eu! Mas quando, já? Eu nem fui convidado pra festa, gente...

Agora, imagino a cena: mil patricinhas convidadas, que atraíram outras duas mil raimundinhas penetras, dançando bundalelê espremidas na praia, fazendo o maior esforço pra ralar o tcham na boquinha da garrafa... até descobrir que, na verdade, estavam mesmo era ralando o tcham no focinho da mucura. Considere o rebu.

O ilustre roedor que entrou de bicão deve bem ter sido aquele meu primo metido a fino, que se amarra num babado... novo! Pois na próxima, eu também vou! Vai dar mais rato que piranha nessa praia! Uhúúú, Já é!

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Esporte não é Saúde! Mas Pratique assim mesmo!

Quem é fino de verdade não se aperta com dificuldades: nóis é pobre, mas nóis semo é apresentado, Baby! É por isso que a tradicionalíssima comunidade do Buraco do Pinto organizou um novo calendário desportivo e de lazer, coincidindo com as enchentes que assolam suas esburacadas ruas inverno sim, outro também: as Olimpíadas do Bodó! Compostas apenas de provas aquático-lamacentas, as Olimpíadas estimulam a camaradagem entre vizinhos, ajudam a atenuar a deprê de perder tudo no alagão e têm baixíssimo impacto ambiental - já que tudo que podia causar poluição já foi arrastado pela enxurrada, mesmo... Simples e brilhante demonstração do espírito esportivo e adaptabilidade do nosso caboclo, capaz de tirar proveito das mais funestas circunstâncias!

Confira agora as três principais provas deste ano e seus respectivos vencedores:

- Revezamento quatro por meia dúzia: ganha a família que conseguir organizar um mutirão-relâmpago para tirar todos os móveis de dentro de casa, a tempo de salvá-los da enchente. Conseguir carregar a geladeira valia 10 pontos; sofá valia 15 - mas só se ele já estivesse encharcado (pesa mais e torna o desafio maior). Ganhou a tradicionalíssima família Pinto, que não deu nome ao bairro por nada: seus competidores são a epítome da garra e da perseverança que só décadas de infortúnio conseguem produzir no espírito humano. Aplausos!

- Medley Malária: longa e duríssima prova de resistência - praticamente a Maratona da Olímpíada do Bodó. Ganha o último morador da comunidade que conseguir permanecer de pé, mesmo depois de contrair uma inevitável malária. Também qualificam para a competição todas as infindáveis variantes de Pragas da Enchente: leptospirose, febre amarela, dengue e até mesmo sua vertente mais aterradora, o OVNIMA (Objeto- Virótico-Não-Identificável-por-Médicos-Amazonenses). Em um resultado polêmico, o troféu ficou com o pedreiro Totonho Espoca-Conga, que havia sido o segundo colocado na prova - uma vez que o verdadeiro vencedor, conhecido apenas como Sêo Matinha, foi considerado hors concours: ele já contraiu todas as doenças tropicais catalogadas no Alfredo da Mata (e mais um bocado das não catalogadas), permanecendo inexplicavelmente vivo. Dizem que ele tomou a garrafada milagrosa da Dona Nêga, que cura até dor de corno. Com isso, Sêo Matinha, apesar dos protestos, não levou o prêmio e ainda está sendo investigado por suspeita de dopping. Trágico.

- Corrida de Correnteza (com barreiras): nessa prova, os competidores se agarram a portas, tampas de mesas, pneus, isopor de picolezeiro ou qualquer coisa que flutue e tentam chegar vivos ao fim da Cachoeira Central (que, em meses menos chuvosos, também é conhecida como Avenida Getúlio Vargas). Tivemos duas vencedoras: as gêmeas Xuxa e Duquesa, vira-latas do Chico Padeiro. Montadas em um bote de plástico-bolha, as cadelinhas chegaram parcialmente conscientes à linha de chegada e fizeram por merecer o prêmio (e o resgate). Jenniffer Camilly, caçula da família Pinto, ganhou um prêmio especial por concluir a prova com menos danos: apenas uma pneumonia, uma amebíase e três costelas fraturadas (um recorde!)


O evento deveras emocionante encerrou-se com o comovente discurso do morador mais velho do bairro, Sr. Pinto "Molhado" (o epíteto carinhoso é tão antigo quanto o próprio bairro), lembrando a todos que no ano que vem vai acontecer tudo de novo - quer queiram, quer não. Os troféus - mimos concebidos pela Jacinta costureira em forma de mosquito da malária, confeccionado com molas de colchões inaproveitáveis - eram um espetáculo à parte. Só o que não prestou foi a dona Juçara, que entregava os troféus. Com ares de dona da festa, tava se achando o pitó, toda de preto e com aqueles óculos de aro grosso, parecendo o Carão da Ciranda. Nota zero para essazinha, que desde que ganhou no bicho e assinou a Caras de 3 vezes no Fininvest pensa que é fina! Mais fácil secar o Buraco do Pinto a rodo do que alguém dar trela pra marmota dessa bruaca abilesada... Mas quando, já?

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E por hoje, a modo, é só. Mês que vem eu tô de volta, fazendo a cobertura exclusiva do acontecimento mais comentado da moda-baixada: Cacau Pirêra Féxion Uíqui 2005!

(Publicação original: Quarta-feira, 27 de Abril de 2005. Mais ou menos.)

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Cumé mermo que liga issaqui, maninhozinho?



O nome parece um palavrão: "Programa de Ensino Médio Presencial por Mediação Tecnológica". Apertando a tecla SAP, trata-se de uma espécie de upgrade do Telecurso Segundo Grau: aulas do currículo nacional ministradas via TV. A diferença é que a coisa ganhou contornos maiores, já que o aluno não fica mais apenas babando na frente da telinha e fazendo cara de paisagem toda vez que bóia na explicação e não tem botão rewind pra apertar. Agora há toda uma "plataforma didática digital multiserviço", movida a conexão via satélite de banda larga-e-meia. O que permite turbinar a coisa toda com videoconferência, mensagem instantânea, transmissão de vídeo à YouTube, quadro branco eletrônico e o escambau. Assim, num esquema de deixar os Jetsons babando, trocentos alunos podem interagir e participar de uma única aula, mesmo que o professor esteja lá no caixa-prego.

Lindo. Só tem um probleminha: o projeto foi criado pela Seduc pra oferecer aulas do ensino médio a estudantes de 300 localidades rurais do Amazonas.

Localidades rurais. Do Amazonas. Pais e mães que se penduram 30 dias num motor de rabeta só pra levar filho pro médico na capital. Professores que nunca participaram de uma teleaula - até por que mal TV eles têm. E estudantes cujas escolas, até ontem, não tinham nem giz. Todos gente de valor - digna, esforçada, inteligente, capaz. Mas também gente pra quem a tecnologia é, literalmente, coisa de outro mundo.

E aí, o quê que a gente faz? Fácil, diz o povo da Seduc. Vamos gerar "multiplicadores". Pega 260 professores dessas comunidades rurais escohidas pra receber o Programa, soca todo mundo no Tropical Hotel (!) e vamos oferecer um curso mega-intensivão de 11 dias, pra fazer Inclusão Digital neles sem vaselina. A cabocada matuta vai sair daqui antenadíssima, ultra-high, o máximo - dando aula de wireless, uplink e downlink, streaming, telefonia IP e o caralho de asa. Tudo bem, antes a gente vai ter que ensinar umas coisinhas básicas também - tipo, o que diabos é um computador, pra que serve o botão de "ligar" e tudo o que vem depois disso. Ah! Cabe ainda um sarau-relâmpago de etiqueta, tipo Danuza Leão em 10 lições, pra demonstrar a essa gente singela tudo o que se deve (e, principalmente, o que NÃO se deve) fazer num hotel 5 estrelas. Lições tipo "o garfo é seu amigo", "A piscina é pra banhar e não pra lavar roupa" e "Porque não devo levar pra casa essas toalhas e travesseiros tão bonitinhos?".

É. Vai dar merda.

Mas, no fim, tudo é por uma ótima causa - e há de funcionar. A agência na qual eu trabalho a ferros foi contratada pra dar suporte e fazer um documentário institucional. Tudo sobre esses 11 dias na Ilha Digital da Fantasia. Rezem por mim: se eu sobreviver à pressão, Bizarro Kid vai ter assunto pra 10 anos.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Encera a laje, maninho, que vai tê festa!


Há não mais que três verões chuvosos, um pequeno moleque bizarro nasceu de parto anormal, debaixo de uma configuração astral das menos prósperas: seu pai neurológico estava prestes a completar 25 anos (quem assistiu “Vida de Solteiro” sabe que essa idade é fatal) e entrou em crise porque não tinha porcaria nenhuma na vida: nem carreira, nem dinheiro, nem canudo, nem ninguém por quem valesse a pena largar tudo isso, caso tivesse. Até os amigos andavam desaparecendo – à caça de carreira, dinheiro e canudo pra sustentar a vida normal de família, filhos e tal.

Daí o jeito foi fazer autoterapia a bordo da única habilidade razoavelmente decente concedida pela divina (?) providência: rir da própria desgraça (e da desgraça alheia, caso faltasse assunto) através da escrita. Tava lançado o Bizarro Kid.

Os tais pouco mais de três anos se arrastaram sobre pedras. Mais ou menos como aqueles elefantes marinhos da Discovery, com a diferença de que não havia uma fêmea de duas toneladas esperando no final (felizmente, convenhamos). Mas o tal caminho teve lá seus méritos – afinal, pedras servem para afiar. O menino e seu pai saíram de lá um pouco menos fracotes, encararam o Monstro fazendo careta e arrancaram dele não apenas carreira, canudo e dinheiro (esse totalmente torrado, porque a gente até pode ser de ferro, mas lubrificar o maquinário sai caro). Também havia ali coisas mais importantes: idéias, personalidade e visões preciosas, devidamente empacotadas na forma de criaturas humanas bem raras. Gente muito, mas muito boa, que passou por ali com algo a dizer e que ambos, pai e menino, tiveram a extrema e bizarra sorte de saber ouvir.

Antes que eu fique perigosamente sentimentalóide (essas coisas só são permitidas às três da manhã, sem ninguém exceto o Roberto Carlos por perto), aqui vai o motivo deste já extenso prelúdio: mês que vem a primeira versão do Bizarro Kid estaria completando aí seus três anos, e o presente veio antes: todo mundo que me acompanha desde aquela época está bem, tocando a vida com o bom humor e a dignidade de sempre, mesmo naqueles momentos em que não há muitos motivos para rir – a não ser que você seja um personagem do Fellini, do Almodóvar ou do Walt Disney. Alguns voltaram depois de bastante tempo só pra contar que tudo continua esquisito como sempre (graças!). Outros apareceram só pra vender herbalife, aparelhos para abdominais e aumentadores de pênis (o que eu também agradeço: viver magro, sarado e com pau grande é tudo o que qualquer um quer da vida).

A festa vai rolar a partir de maio, e eu já comecei a preparar a casa pra tanto. De cara, incluir links pros bizarros de honra, que não deixam de aparecer pra pôr um sorriso nestes meus dentes de pacu. Logo depois, fazer um puxadinho pra abrigar três novas seções – um baú de bizarrices guinchadas de antigas edições do blog (que sobreviveram às chuvas), um espaço decente (e mais regular) pro coitado do Tchaca-Tchaca e um podcast ocasional, com aqueles sucessos que só o Bizarro Kid colaria no seu ouvidinho (eu tô mexendo num treco aqui que ensina a editar e pôr no ar o tal podcast, mas na pior das hipóteses sempre dá pra pedir ajuda aos universitários).

E é isso, pois que post longo, só de nhé-nhé-nhé e sem nenhuma figurinha, ninguém tem saco de ler. Beijo grande, meu povo!

terça-feira, 17 de abril de 2007

Tenha medo da Moda

A Moda tropeçou. No meio da passarela, diante das câmeras dos fotógrafos e dos olhares estupefatos de uma miríade de estilistas diáfanos e igual número de socialites afetadas.

Tropeçou, mas não caiu. O salto quebrou, o zíper abriu, a maquiagem escorreu mas - mais uma vez - a Moda conseguiu manter a pose. Empinou-se, deu uma voltinha, fez que nem era com ela. E seguiu plataforma afora, com a nobreza de um herói ferido, arrancando aplausos da platéia entusiasmada. Arrancou também uma tonelada de badulaques e trapos finos que a sufocavam enquanto caminhava, quase trotando, de volta aos bastidores. E os arremessou, sem piedade, às fuças dos auto-proclamados deuses que os haviam parido.

Era mesmo assim, a Moda: geniosa. Quem não a agradava teria que tomar muito, muito cuidado ao apresentar a próxima coleção. A única coisa que a Moda não podia fazer de jeito nenhum era cair do palco. Não ainda. Precisava manter as aparências, o cetro, a coroa e os cofres de uma infinidade selecionada de reis e rainhas ciumentos que governavam o Palácio das Vaidades graças a ela.

Não era muito fácil enfrentar aquela esgrima de alfinetes e tesouras – charmosamente ocultas em olhares e línguas - enquanto se equilibrava entre séqüitos de gazelas descerebradas com silhueta de sílfide, mantida à dieta do dedo indicador. Entre saltos cada vez mais vertiginosos, decotes que desciam na direção contrária às saias e egos que insistiam em alçar vôo. O que aconteceria se aquelas fronteiras se encontrassem?

Já o sabemos: tudo seria engolido por uma boca gigantesca.



Corram por suas vidas.



(Bocudos clicados no tal Amazonas Fashion {fashion?}, em caretas esdrúxulas que você não vai ver em nenhum outro lugar - pois o fotógrafo as cedeu com exclusividade para o Bizarro Kid. Tirar sarro dá prestígio.)

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Solta o batidão agora ou cale-se para sempre!


Mesmo não sendo um católico dos mais aplicados, eu sou fã da igreja de Nossa Senhora de Nazaré. Tem coisa que só acontece lá.

Tipo o casamento do Tibúrcio (não, o nome dele não é esse; eu sou um fofoqueiro ético e protejo minhas fontes do escárnio público trocando seus nomes por opções mais discretas). A história foi mais ou menos assim:

O Tibúrcio namorou por 3 anos a Isaltina. E um belo dia a menina encasquetou que queria casar.

Daí o Tibúrcio resolveu casar logo de uma vez. O detalhe nº 1 é que ele não casou com a Isaltina, coitada. Ele largou a pobre e, dois meses depois, casou com a Severina.

O detalhe nº 2: a Severina, por acaso, era irmã da Isaltina. E a família das moças não engoliu essa história lá muito bem.

Alguns amigos de longa data, tomando conhecimento apenas do casamento e não dos detalhes 1 e 2, não tardaram a ligar dando os parabéns:
- Aê, Tibúrcio, felicidades pra ti, cara!
- Pô, Valeu!
- E manda um beijo pra Isaltina! Tô doido pra ver ela vestida de noiva!
- Hmm, isso vai ser meio complicado... já que quem vai usar o vestido vai ser a Severina
- (...)
- Ela mesma. A irmã da Isaltina.
- (...)
- Pois é, na hora de casar eu resolvi trocar de irmã. Mas pelo menos manteve a família, né? Fica um clima mais íntimo.

Então, tá: o casamento, aos trancos e barrancos, foi marcado (a Isaltina preferiu não comparecer). No dia da cerimônia, lá a igreja de Nazaré toda enfeitada e devidamente preenchida por um monte de parentes e amigos - a maioria esboçando uma suave cara de tapado com a história da noiva-estepe "mas-sorri-e-faz-de-conta-que-é-tudo-muito-natural". Chegam os celebrantes, e musiquinha e coisa e tal. Chegam os padrinhos, e musiquinha e coisa e tal. Chega o noivo com a mãe (a coroa com a cara enterrada de vergonha debaixo do chapelão), e musiquinha e coisa e tal. Chega a noiva... e cadê a caceta da musiquinha e coisa e tal?

Ferrou: o som da igreja faiô justo na entrada da noiva, deixando o coro mudinho da silva, sem teclado pra acompanhar. "Conserta essa porra!", grunhiu entre dentes, com muita sutileza, o pai da Severina - permanecendo pregado lá na porta e recusando-se a casar sua primeira filha sem sequer uma marcha nupcial.

E como é que conserta? Dava não. O som pipocou por conta de um curto-circuito dos feios: a aparelhagem velha não agüentou o tranco de ficar ligada no toco desde cedo, pra abafar a barulheira que vinha de fora (era mês de junho, e no Colégio Ângelo Ramazzoti - que fica ali, colado muro com muro na Nazaré - tava tendo "Festival Folclórico e Cultural").

Daí, sobrou pra Severina: de véu, grinalda, buquê na mão e puta da cara, achando que aquilo era praga da irmã largada, teve que dar seus passinhos milimetricamente ensaiados rumo ao altar ao som da quadrilha-moderninha "Juventude na Roça", que se apresentava simultaneamente na quadra vizinha com P.O.Box estrondando no som: "TÔOOO VIAJANDUUU NA ONDA DESSA MININA, QUE DÁ AULA DE INGLÊS..."

Mas assim mesmo a noiva fez bonito (tá no inferno, abraça o capeta, né meu povo?). Respirou fundo, firme no carão, e foi. A geral ali, segurando a fina ao ver, pela primeira vez, uma noiva sendo arrastada pelo pai ao som de tecnofunk-pop-descolado. A criançada, nem aí, acompanhava o refrão numa boa e até rolava palminha na hora do "BATER UM PAPO NO CAFÉ, É PAPO DE JACARÉ!". Uma coisa.

Meses depois, eis que nasce a primeira cria do improvisado casal. A ex-quase noiva acha o sobrinho a coisa mais linda e resolve finalmente se reconciliar com a irmã (com o Tibúrcio ela só voltou a falar anos mais tarde).
Ah! E diz que até hoje o moleque adora ouvir "Papo de Jacaré". Quando era bebê e a música ainda tava no auge, ele pulava até a fralda cair. Vida é mesmo mó barato.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Zoo Bizarro Worldwide

A moda agora é tingir a xaninha













"MIEI de ser sexy."


Luxo, originalidade e uma pusta falta do que fazer: tem povo aí pagando fortunas pra transformar seus bichanos em obras de arte.

É sério, gente. Dessa vez não se trata de lenda urbana internética, tipo aquele papo de enfiar gatinho em compota - tremendo trote fuleiro no qual muita gente acreditou a ponto de pagar mico, mandando correntes indignadas pelo mundo afora.

A CNN, a BBC, o Globo e a Chica do Açaí não falam de outra coisa: aquecimento global e bichanos multicoloridos são o que há. Já tem até um movimento internacional dedicado ao hobby. Ó só o que eles dizem:
A arte em gatos já tem estilos definidos, como o Classicismo Nouveau, o Neo-Totemismo e o Avant Funk, mas a pintura dos felinos não é apenas usada para fins estéticos (...) A pintura promove uma melhor compreensão do papel dos gatos na sociedade. Um centro terapêutico diz usar os gatos pintados para ajudar na recuperação de mulheres depois de experiências traumáticas.
Então, tá dado o recado pra minha leitora querida: em caso de violência física/sexual, mastercard estourado, unha quebrada e menstruação atrasada, nada de histeria. É só tacar tinta na sua xana que tudo volta a ter beleza e poesia nessa vida.
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Haja Mosca










"Gente, meu cururu é enooooorme!"


Os australianos tão fulos da vida com a nova praga que assola o país. Não, não são cangurus, gafanhotos, cochonilhas ou a Kylie Minogue: trata-se de uns sapões venenosos do tamanho de bolas de basquete. Como nem mesmo sucuris ou estagiários de publicidade têm estômago pra engolir sapos deste tamanho, a população resolveu exterminar os invasores por conta própria. O esporte oficial da Austrália hoje é descer o pau na perereca. Tadinhas.













"Isso é porque você não viu a largura da minha perereca."
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Afogando o Ganso (com amor, ternura e aconchego)













"Fica assim não, miga! Ele não te merece!"


Tchaikovsky, você não sabe de nada. Cisne Romântico de verdade é a Petra, lá da Alemanha, que se apaixonou perdidamente por um pedalinho. A atração foi instantânea e a fidelidade tão grande que a pobre marreca se recusou a migrar durante o inverno junto com as demais aves de seu bando - que não curtiam um lance assim tão platônico - e precisou ser resgatada para não morrer congelada ao lado de seu amado.

É muito sentimento. É um lirismo que me arrebata. Esse mundo tem jeito, o amor tudo pode, a vida é bela e a felicidade até existe.

terça-feira, 27 de março de 2007

Pois que um bom diálogo ilumina nossas vidas


Srta.D: Tarados. Eu atraio eles.
Bizarro: Provas. Analisemos esta questão cientificamente.
Srta.D: Então tá. Tipo, primeiro final de semana com macho novo. Eu lá doida pra dar - mas dar numa boa, estilo livre, sem modalidades exóticas.
Bizarro: Entendo. Nada de algemas, chicotes e chapéu de paquita.
Srta.D: Ou roupinha de colegial japonesa. Teve um cara que me pediu isso uma vez.
Bizarro: Era japonês?
Srta.D: Não. Mas trabalhava na Honda e levava o trabalho muito a sério. Rolava identificação.
Bizarro: Perfeitamente natural. Mas não desviemos: final de semana, você e o macho novo que você afirma ser tarado.
Srta.D: Pois é. A gente tava nessa festinha meia-boca, agoniados pra sair logo dali e começar a pegação. Depois da festa, fomos pro apê dele... aquela animação... mas quando a coisa esquenta pra valer, ele me pede um minutinho e sai.
Bizarro: Intrigante.
Srta.D: E eu lá, no quarto, semi-pelada e com cara de pateta. De repente, do som da sala, eu ouço Bryan Adams. Aquela musiquinha cafona - quer dizer, todas as musiquinhas do Bryan Adams são mortas de cafonas, mas essa é campeã: aquela do Don Juan de Marco.
Bizarro: "Have-you-ever-really-really-loooooved-a-womaaaan?". Sei. De fato, Intrigante.
Srta.D: E eis que, empurrando a porta, surge o dito cujo com chapéu, capa e máscara pretos (que eu não faço idéia de onde ele arranjou) e uma rosa vermelha (de plástico) na boca.
Bizarro: Decididamente intrigante.
Srta.D: E de... "espada" em riste, se você me entende.
Bizarro: ...
Bizarro: Total, completa e definitivamente intrigante.
Srta.D: Bom, em síntese: não teve transa, pq eu tive um ataque de gargalhadas tão federal que qualquer clima foi pras cucuias. Pedi desculpas, me vesti, fui pra casa. Nem preciso dizer que ele e o "juanzinho" ficaram extremamente decepcionados comigo... mas nem tudo foi tão ruim. Afinal, tive meu orgasmo da noite. Só não esperava que fosse de tanto rir.
Bizarro: Creio que ele não foi um Don Juan muito convincente, portanto.
Srta.D: Quem me dera. Com um buchão de chopp daqueles, de chapéu, capa preta e barba por fazer, tava mais pra um clone pornô do Zé do Caixão.
Bizarro: Humm, ok, você teve sua trepada arruinada pelo Bryan Adams. Até aí, tudo normal: Bryan Adams já arruinou as trepadas de muita gente. Mas devo admitir que, além disso, ter que encarar a versão Go-Go Boy Trash de Don Juan de Marco deve ter sido, de fato, um tanto traumático. Tudo bem, estou convencido: você atrai tarados.
Srta.D: Eis a história da minha vida.

E esse é o tipo de pessoa que me procura pra desabafar. Uns atraem tarados, eu atraio gente doida. Cada qual com seu magnetismo pessoal e intransferível. A Natureza sabe o que faz.
(...)

Falando nisso...

Muita gente não acredita nas tosqueiras que eu conto. Daí arranjei uma câmera fuleira pra carregar pra cima e pra baixo - quem sabe, assim, eu consigo provas de alguns dos flagrantes bizarros com os quais me deparo cotidianamente.
E não demorou nada: mal carreguei a câmera, em noite de fome e toró destruidores, olha só o que me surge nas fuças: uma ambulância - com sirene ligada - infernizando meio mundo na fila do Drive-Thru do Habib´s.


Mas tudo bem, ué. Vai ver que o último desejo do paciente moribundo foi comer esfirra da promoção de 39 centavos. Como diz vovó Bizarra, Pagar caro "pra quê, se o futuro é a morte?"

quarta-feira, 14 de março de 2007

Ele é brasileiro e não desiste nunca!

É que nem visita de parente: quando a gente menos espera, ele chega e se instala!


Pobre não tem nada mas é tudo!

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ItacoatiarEMO

Pensam que minha Tacota querida é o fim do mundo, né? Pois mordam a língua, seus peçonhentos! Itacoatiara é chique, cosmopolita, arrojada, up-to-date.

Pois que a mudernérrima tribo dos EMO chegou na Pedra Pintada com força total já faz é tempo. Duvidam? Pois saca só a conversa que flagrei na pracinha do Rosário, entre dois respeitáveis vereadores eleitos naquela simpática cidade:

- Aí, nóis vinhEMO, né? CheguEMO lá... e esperEMO,esperEMO, esperEMO... só que os assessô do hômi num vinheram... daí nóis fiquEMO puto de isperá e vortEMO!


Tacota vanguarda no balde. Lá só se fala em EMO. E o orgulho me sacode.

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AAAAAi, Jesus!

Diferente daquele pagão do Bizarro, eu sou um rato espiritualizado. Fiz até Crisma, escondido debaixo das toalhinhas de crochê do altar da Matriz. Religiosidade é algo que eu prezo, amo e respeito.

Mas tem irmão que exagera. Olhaí a pobre da Silmara, verdadeiro anjo de candura que faz faxina na casa do Bizarro. Silmarinha é evangélica fervorosa. Mesmo. A ponto de queimar de febre uma semana, por conta de uma dor de dente mal tratada, sem dar-se o luxo de procurar tratamento (sofrer é cristão e dá status no culto).

Tresantonti eu esbarrei nela lá no mercadão e perguntei: "E como vai teu dente, Silmara?". No que a infeliz me responde, puxando ar lá do fundo e com uma cara de Lassie atropelada que se desse eu pegava no colo: "- Ah, seu Tchaca-Tchaca, o dente tá uma bênção: dói dia e noite...".

Haja fé. Se um dente que dói dia e noite é uma bênção, não quero imaginar o que seria uma maldição. Como diria a Crente Girl e estrela pop Marli: - Misericórdia!

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Mera nomeclatura

" - Dotô vereadô!", chamou o assessor puxa-saco, em visível inquietação. "- Tá a rapiocági todinha aqui da oposição falando mal do sinhô. Diz que o seu nome tá na lista do SPC!". "- Égua!", retruca com indignação o nobre político, "- A culpa num é minha, não! É esses povo aí da tal ´alta cúpla´ do partido, que véve trocanu a gente de legenda! Que eu saiba, eu era do PMDB... Mas se agora me jogaru presse tal SPC, nem eu sabia!".

(...)

Nóis zurra, mas nóis se elégi. E viva a democraSSia.

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Chá de Panela

Meu compadre Quênnedy, freguês das antigas, tá por demais já bossal. Bossal assim mesmo, com dois éssi, que ele agora só anda de Hugo Boss (do bate-palma, mas é).

Isso tudo porque ele, mais comadre e a curuminzada toda, tão de muda lá da beira. Depois de 15 anos com aquele pitiú de igarapé podre debaixo das ventas, a família foi contemplada com uma casinha (de alvenaria, manque!) num conjunto novo desses bem ali (aponta com os beiços).

Fim de semana lá tem festa pra comemorar o novo lar e a geladeira que compadre Quênnedy tirou na prestação. Vou levar meus espetinhos mistos de filé miau com lingüiça de mucura pra gente assar vendo o DVD novo da Calypso, que tá de arrepiar o cangote. A Joelma agora sai até no Luciano Huck, te mete! A lôra é chique no balde.

Os leitores estão todos convidados pro rega. O duro é chegar lá. Sabe o Caixa-Prego? Pois é: segue adiante, depois do vento fazer a curva, cata a meia que Judas perdeu, anda mais um pouquinho, pára na Casa do Cacete pra pedir informação, segue reto toda a vida até tropeçar nas pregas do fiofó do mundo. É lá.

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Tchaclassificados

E pra comemorar que não sou mais um rato invertebrado (voltei a ter coluna!), eis que inauguro uma nova sessão: os Classificados Tchaca-Tchaca!

Aqui a gente compra, vende, troca, faz rolo, financia no Fininvest, divulga resultado do bicho, anuncia missa, pede voto e oferece uns bico pra essa gente bronzeada que quer mostrar seu valor, mas não consegue caso de quê emprego tá difícil...

Solta o reclame do Seu Chico!



(P.S.: Seu Chico tá vendendo só o barco. Motor de rabeta não incluído. Bizarrete-Sem-Cabeça também não.)

sexta-feira, 9 de março de 2007

Lembra do "For Making Love"?


"Turnarooooound, bright eyes..."


E como não lembrar da tradução simultânea de "Total Eclipse Of The Heart", oferecida pela Leidivânia do São Lázaro ao seu amado Ozivaldo da Betânia?

Fosse pra curtir ou pra zoar, ninguém conseguia desligar o rádio daquele sensacional festival de breguices capitaneado por Éfi Cavalcante e sua inconfundível voz "Tomei Gardenal e Fui Trepar" - que só ele (e talvez a Leidivânia do São Lázaro) achava sexy, mas todo mundo adorava assim mesmo.

O slogan "Para Amar Demais e Bem Gostoso" tinha um apelo feiticeiro. Resistir não dava. A química fluía feito feromônio musical pelas ondas do rádio, convidando meia Manaus a um surto coletivo de coitos (ou gargalhadas) enquanto Scorpions, Air Supply, Bonnie Tyler, Bryan Ferry e demais reis do mela-cueca botavam pra quebrar com os berros, gemidos e susurros mais adoravelmente mal musicados dos anos 80. Muita gente que hoje suspira pela Joelmala ou pelo Blargh Guerra foram concebidos nessa época, mas infelizmente não trouxeram do berço toda essa bela e romântica formação musical - com exceção das meninas do Rêmulo´s, que fazem questão de temperar seus shows exóticos com os mesmos hits eternos da trepada-music, numa bem-vinda influência às novas gerações.

Somando charme, sentimentalismo e o fôlego de F. Cavalcante para traduzir até os "tchu-ruru" de "Lady in Red" (a daaaamaaaa de veRRRRme-lhuuu), O "For Making Love" fez tanto sucesso que virou referência - além de um show ao vivo que abalava as estruturas de muitos corações no Juventus de Santo Antônio. Mas o tempo nos deixou órfãos de mais esta maravilha, assim como carregou outras lembranças eternas da Manaus Sou-Pobre-Mais-Sou-Feliz - como o cascalho vendido na lata com triângulo anunciando, a caninha Chora Rita, o papagaio do reclame da manteiga Cabeça de Touro e as grades de Crush e Mirinda que a gente ganhava no programa da Tia Cida. Bons tempos...



"Making looooooove, out of nothing aaat-all!!!"

quarta-feira, 7 de março de 2007

Passa por cima, pô!



O Instituto Municipal de Trânsito (Imtrans) - que até então eu nem sabia que existia ou pra que diabos serve, por razões óbvias - ligou o alarme: segundo levantamento lá deles, as ruas de Manaus registram, diariamente, um acidente por hora. Em média.

Um acidente por hora. Me pergunto que diabos o pessoal responsável por tal levantamento fazia com o tempo livre, já que qualquer caboclo domador de volante pode deduzir, sem outro radar senão o bom senso (?), que no trânsito dessa cidade rola uma porrada a cada 60 segundos. E isso porque São Cristóvão vive de farol ligado e com o pé no freio, coitado, já que - se dependesse unicamente da habilidade e boa educação de nossos motoristas - o número seria no mínimo dez vezes maior e nossas ruas disputariam pau a pau, em quantidade de carcaças automobilísticas, com aqueles cenários do Mad Max.

Toda vez que um amazonense (seja natural ou importado) conduz um veículo garagem afora, inicia-se uma batalha épica, quase religiosa. Só que ao invés de Bem contra o Mal, aqui temos o Péssimo contra o Deus me Defenda: em maior ou menor escala, seja por talento ou pelas circunstâncias, em Manaus todos dirigem desgraçadamente mal. A lista de pecados automotivos é interminável: pode ser um simples estacionar no meio da rua só pra comprar pão ou atender o celular (basta ligar o pisca-alerta que cê tá certíssimo e o resto da avenida que se esprema pra tentar passar). Ou, talvez, a Síndrome do Motorista de Aeroporto (pra quê rodar direitinho na sua faixa, se você pode plantar o carro NO MEIO da linha divisória? Que nem avião, que precisa seguir a faixa contínua pra não se perder da pista). Luz vermelha quer dizer "Ah, agora já passei, foda-se". Luz amarela quer dizer "Buzine pr´esse idiota aí da frente andar mais rápido, senão tu vais perder o sinal".

Buzinar, aliás, traz implícito todo um complexo sistema de comunicação que manda a etiqueta do trânsito às favas em nome da praticidade e agilidade: pra evitar acidentes, buzine. Pra pedir passagem, buzine. Pra chamar o jornaleiro ou paquerar a gostosa na calçada, buzine. Esprema a buzina também sempre que achar que pode, milagrosamente, andar mais rápido - mesmo que haja 150 carros na sua frente, o sinal esteja fechado e não haja a menor possibilidade, dentro da geometria euclideana, de você se deslocar dali - a não ser que seu carro tenha um par de hélices ou um propulsor a jato e seu nome seja Bond, James Bond.

Manaus não tem ligação decente por estradas com o resto do país. É, portanto, um tanto sobrenatural o número de caminhões gigantescos e carretas maiores ainda zanzando pra lá e pra cá, dentro e fora do horário comercial (transportando o quê? De onde? Pra onde? Não se sabe). E todos eles têm um prazer quase sádico em comprimir qualquer outro veículo com menos de três metros de altura por dez de comprimento que encontrem. Deve ser algum tipo de competição esportiva, algo que caminhoneiros e motoristas de ônibus discutam, contando vantagem no boteco: - "Hoje dei fechada em três palios, dois fuscas e um gol cara-chata, e você"? -"Ah, hoje eu tô devagar, só encostei nuns três celtinhas. Mas quase tiro uma D-20 da pista! D-20 vale dez pontos!". Quando outros competidores resolvem se juntar ao racha e você é azarado o bastante pra estar no lugar e hora errados (o que sempre acontece), tem-se a imagem do pesadelo: seu pobre carrinho espremido no sinal fechado, na hora do rush (que, ultimamente, é qualquer hora), tendo um caminhão à frente, um taxista atrás (buzinando e tentando ultrapassar sem dar sinal, como de hábito), um ônibus metendo as fuças pelos flancos e duas dúzias de motos de cada lado. Pânico.

Motos, por sinal (vermelho), merecem estudos mais elaborados, esmiuçados em um capítulo à parte dentro do Tratado Sobre Absurdos do Trânsito Baré. Afinal, em se tratando de motocicletas, a função "transporte" é secundária: sua principal raison d´être é servir como instrumento de controle populacional. Motoqueiros são abatidos às dúzias, das formas mais variadas e morbidamente criativas possíveis. Mas a espécie é uma das mais resistentes dentro do ecossistema urbano, possuindo mecanismos de sobrevivência (e reprodução) assustadores: a cada motoqueiro esbagaçado, surgem três pra ocupar o lugar. E eles ocupam QUALQUER lugar: não há critérios nas leis fundamentais da física capazes de explicar, com devida lógica, como uma Honda Biz consegue caber entre dois ônibus numa Avenida Brasil às seis da tarde.

Talvez seja o caso de sugerir ao nosso prefeito, que adora tapar alguns buracos (nas ruas e nos cargos públicos) e abrir outros tantos (também nas ruas, no orçamento e na própria imagem), uma nova campanha de conscientização para o trânsito. Mais direta, na veia, que fale explicitamente ao motorista manauense:

"EVITE ACIDENTES: FIQUE EM CASA."

sexta-feira, 2 de março de 2007

Todo castigo pra pobre é pouco

Graças a uma combinação saudável de burrice e azar (faltou luz bem na hora em que eu estava fazendo as alterações no layout) eu apaguei o Bizarro Kid INTEIRO.

É. Zero. Cabô. Tudinovo.

Enquanto eu vou logo ali, lamber uma cerca elétrica ou espremer a canela esquerda na porta do elevador de carga da obra da esquina pra passar a raiva, cês rezem por mim. Mal não vai fazer.