sexta-feira, 30 de maio de 2008

Nem a pau, Juvenal!



Hoje é dia de chegar mais cedo do trabalho, passar Phebo nas estrias, se enfiar no samba-canção que a patroa lavou com Fofo Brisa Suave e se afundar na poltrona manchada, com o isopor de Skol de um lado e um penicão do outro - pra não precisar desgrudar da TV nem pra mijar.

Final do brasileirão? Muito pior: final da Duas Caras. Nunca tantos tiozões tiveram sua atenção galvanizada por uma novela. E não adianta dizer que é pra ver a Alzira relar na vara, não: todo mundo sabe que os cabras tão mesmo é vibrando pelo Juvenal.

Ainda bem que vai acabar. As esposas já tavam preocupadas.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Saudades da fita K-7


- Sábado que vem vai ter festa na casa do Fulano!

Por "festa", naquela época e idades, entenda-se uma reuniãozinha de pouco mais de dúzia de adolescentes, quase sempre da mesma rua ou escola, com hora marcada pra começar e terminar, geralmente realizada na garagem de alguém - que era pra dar o mínimo de trabalho possível pros pais do tal alguém e assim, convenientemente, mantê-los a uma agradável (ainda que mínima) distância.

Assim mesmo, a festinha de garagem era um acontecimento social que deixava ânimos, hormônios, páginas de relicário e conversas de recreio em ebulição por pelo menos uma semana. Isso porque havia todo um ritual de preparação, quase impensável nos dias de hoje. Pra começar, tinha que se escolher a dedo a trilha sonora. A dedo mesmo: anos-luz antes dos milagres dos CDs e MP3 da vida, os DJs amadores tinham que se virar com bolachões de vinil e fitas k-7 em aparelhos pra lá de mecânicos que exigiam paciência e habilidade em generosas proporções.

E isso era maravilhoso.

Dada tamanha complexidade, o randevú juvenil contava sempre uma especie de comissão de produção/relações-públicas, geralmente formada pelo "dono da festa" e seus amigos mais chegados, que tinham a religiosa missão de formar redes de relacionamento musical - as mais improváveis possíveis - pelo bem da diversão geral. Tipo: aquela ali tem LPs da Madonna, da Blitz e do A-HA; aquele outro tem do Dire Straits e do The Police; o doidão lá do fim da rua tem Oingo Boingo e The Cure, e - juro pela minha mãe! O Disque-Jóquei da Difusora prometeu que amanhã à tarde vai rolar um especial do Michael Jackson de uma hora, sem intervalo comercial!

Daí juntava-se todo esse material fonográfico arcaico com o cuidado de quem embala criança (vinil era caro pra cacete e se alguém arranhasse disco emprestado... Ah! Era morte social!) e debandava geral pra casa de algum sortudo que tinha um aparelho 3 em 1 com duplo deck - o máximo de sofisticação e status que um ser humano com menos de 18 anos poderia alcançar num mundo pré-windows. O tal três-em-um era um aparelho de som grande e pesado o bastante pra ocupar lugar de destaque na estante de uma sala e permitia gravar músicas de LPs e da rádio diretamente para uma fita k-7.

Nessa fita-maravilha, gravava-se faixa a faixa a "seleção" da festa. Tinha "Lado A" e "Lado B", cada um com mísera meia hora de duração (45 minutos se fossem fitas Basf de cromo, que sempre quebravam) e encher cada um desses lados de meia hora exigia um planejamento digno de engenheiro astrofísico: o repertório tinha que acabar EXATAMENTE no final da fita - se sobrasse espaço, a K-7 ficava muda e a pista de dança era obrigada a parar até que o DJ "virasse" a fita; se, ao contrário, o espaço da K-7 acabasse antes, a música cortava no meio abruptamente (e cortava todo o clima da festa junto com ela). Mesmo que o aparelho milagroso tivesse o ultra-mega-high sistema de auto-reverse (que "virava" o lado da fita automaticamente sem ninguém precisar mexer), ainda assim fazia um barulho horrível no processo e melava a festa do mesmo jeito. A molecada era exigente.

Era comum comprar as K-7s em caixas de 10 unidades, pois saía mais barato. Mas raramente a mesma fita permanecia gravada por muito tempo: era regra reutilizá-las ao infinito, rebobinando com lápis e cobrindo o lacre anti-regravação com bolinha de papel ou fita durex. Isso porque nunca dava pra gravar uma fita inteira sem nenhuma falha: se você gravava a partir de LPs, sempre tinha uma faixa arranhada. Se gravava direto da rádio, o desgraçado do DJ sempre falava no meio da música - e lá vinha você correndo tacar o dedo no botão "pause", mas era tarde demais.

Quando tudo dava certo e uma seleção musical Medalha de Ouro era gravada, significava que a festa seria um sucesso. Tinha que ter o "momento agitado" pra todo mundo dançar, o "momento romântico" onde os que estavam a fim um do outro aproveitavam pra dançar coladinhos e também os momentos tragicômicos - de prendas do tipo imitar a Gretchen e as terríveis "danças da vassoura" que só rolavam direito se as mocinhas do lugar já tivessem se emborcado de Keep Cooler sabor frutas (só elas acreditavam que aquela porra tinha pouco álcool). Seleções musicais memoráveis rendiam festas idem, e as fitas que tocavam em festas bem-sucedidas viravam alvo de disputas dignas de coliseu.

É claro que eu não sou um dinossauro chato que vive do passado: adoro minhas toneladas de MP3 e meus playlists de décadas de duração organizados em menos de cinco minutos. Mas havia qualquer coisa de romântico, de heróico, naquelas maratonas de caça musical dos anos 80/90 que fazem muita falta hoje. Gravar as tais coletâneas era a ocasião perfeita pra vencer um dia chato: a turma aproveitava pra se reunir (ao vivo, pois que não havia celular nem MSN pra atrapalhar). Entre conversas, fofocas e palhaçadas, a gente se conhecia, amadurecia, trocava referências, experiências... Vivia.

Eu sinto falta, sim, das minhas fitas K-7 - porque dentro de cada uma delas tinha música, tosqueiras, improviso, gargalhadas, namoros, criatividade e uma mal disfarçada inocência que, infelizmente, não cabe nos arquivos digitais de hoje. Eles são leves, rápidos e esquecíveis demais.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Portelinha pra quê?



Diz que o Ibope das novelas tá diminuindo mais que as roupas da Flávia Alessandra. Pudera: com Isabelas caindo de janelas, padres desaparecendo a bordo de balões de festa, bebês de duas cabeças nascendo na Índia, cafetinas brasileiras derrubando candidatos à presidência nos EUA, covas coletivas sendo abertas em Manacupuru, mototaxistas encontrados sem pau em varadouros na BR 174 e Ronalduchos comsumindo travecas em pleno horário nobre, novela perdeu a graça: emocionante mesmo é assistir telejornal. E eu, que só dou notícias bizarras, fiquei com cara de Diário Oficial.

Concorrência desleal é uma merda.