quarta-feira, 4 de abril de 2007

Solta o batidão agora ou cale-se para sempre!


Mesmo não sendo um católico dos mais aplicados, eu sou fã da igreja de Nossa Senhora de Nazaré. Tem coisa que só acontece lá.

Tipo o casamento do Tibúrcio (não, o nome dele não é esse; eu sou um fofoqueiro ético e protejo minhas fontes do escárnio público trocando seus nomes por opções mais discretas). A história foi mais ou menos assim:

O Tibúrcio namorou por 3 anos a Isaltina. E um belo dia a menina encasquetou que queria casar.

Daí o Tibúrcio resolveu casar logo de uma vez. O detalhe nº 1 é que ele não casou com a Isaltina, coitada. Ele largou a pobre e, dois meses depois, casou com a Severina.

O detalhe nº 2: a Severina, por acaso, era irmã da Isaltina. E a família das moças não engoliu essa história lá muito bem.

Alguns amigos de longa data, tomando conhecimento apenas do casamento e não dos detalhes 1 e 2, não tardaram a ligar dando os parabéns:
- Aê, Tibúrcio, felicidades pra ti, cara!
- Pô, Valeu!
- E manda um beijo pra Isaltina! Tô doido pra ver ela vestida de noiva!
- Hmm, isso vai ser meio complicado... já que quem vai usar o vestido vai ser a Severina
- (...)
- Ela mesma. A irmã da Isaltina.
- (...)
- Pois é, na hora de casar eu resolvi trocar de irmã. Mas pelo menos manteve a família, né? Fica um clima mais íntimo.

Então, tá: o casamento, aos trancos e barrancos, foi marcado (a Isaltina preferiu não comparecer). No dia da cerimônia, lá a igreja de Nazaré toda enfeitada e devidamente preenchida por um monte de parentes e amigos - a maioria esboçando uma suave cara de tapado com a história da noiva-estepe "mas-sorri-e-faz-de-conta-que-é-tudo-muito-natural". Chegam os celebrantes, e musiquinha e coisa e tal. Chegam os padrinhos, e musiquinha e coisa e tal. Chega o noivo com a mãe (a coroa com a cara enterrada de vergonha debaixo do chapelão), e musiquinha e coisa e tal. Chega a noiva... e cadê a caceta da musiquinha e coisa e tal?

Ferrou: o som da igreja faiô justo na entrada da noiva, deixando o coro mudinho da silva, sem teclado pra acompanhar. "Conserta essa porra!", grunhiu entre dentes, com muita sutileza, o pai da Severina - permanecendo pregado lá na porta e recusando-se a casar sua primeira filha sem sequer uma marcha nupcial.

E como é que conserta? Dava não. O som pipocou por conta de um curto-circuito dos feios: a aparelhagem velha não agüentou o tranco de ficar ligada no toco desde cedo, pra abafar a barulheira que vinha de fora (era mês de junho, e no Colégio Ângelo Ramazzoti - que fica ali, colado muro com muro na Nazaré - tava tendo "Festival Folclórico e Cultural").

Daí, sobrou pra Severina: de véu, grinalda, buquê na mão e puta da cara, achando que aquilo era praga da irmã largada, teve que dar seus passinhos milimetricamente ensaiados rumo ao altar ao som da quadrilha-moderninha "Juventude na Roça", que se apresentava simultaneamente na quadra vizinha com P.O.Box estrondando no som: "TÔOOO VIAJANDUUU NA ONDA DESSA MININA, QUE DÁ AULA DE INGLÊS..."

Mas assim mesmo a noiva fez bonito (tá no inferno, abraça o capeta, né meu povo?). Respirou fundo, firme no carão, e foi. A geral ali, segurando a fina ao ver, pela primeira vez, uma noiva sendo arrastada pelo pai ao som de tecnofunk-pop-descolado. A criançada, nem aí, acompanhava o refrão numa boa e até rolava palminha na hora do "BATER UM PAPO NO CAFÉ, É PAPO DE JACARÉ!". Uma coisa.

Meses depois, eis que nasce a primeira cria do improvisado casal. A ex-quase noiva acha o sobrinho a coisa mais linda e resolve finalmente se reconciliar com a irmã (com o Tibúrcio ela só voltou a falar anos mais tarde).
Ah! E diz que até hoje o moleque adora ouvir "Papo de Jacaré". Quando era bebê e a música ainda tava no auge, ele pulava até a fralda cair. Vida é mesmo mó barato.

2 comentários:

Alexandro Castro disse...

Ahahahaha! Ao menos Tiburcio é um nome que ninguém deve errar rsrsrs.

Alexandre Nogueira Santana disse...

E um viva aos Tibúrcios do mundo. Graças a eles, os casamentos ainda são toleráveis - ao menos, enquanto durar a cerimônia.