quarta-feira, 7 de março de 2007

Passa por cima, pô!



O Instituto Municipal de Trânsito (Imtrans) - que até então eu nem sabia que existia ou pra que diabos serve, por razões óbvias - ligou o alarme: segundo levantamento lá deles, as ruas de Manaus registram, diariamente, um acidente por hora. Em média.

Um acidente por hora. Me pergunto que diabos o pessoal responsável por tal levantamento fazia com o tempo livre, já que qualquer caboclo domador de volante pode deduzir, sem outro radar senão o bom senso (?), que no trânsito dessa cidade rola uma porrada a cada 60 segundos. E isso porque São Cristóvão vive de farol ligado e com o pé no freio, coitado, já que - se dependesse unicamente da habilidade e boa educação de nossos motoristas - o número seria no mínimo dez vezes maior e nossas ruas disputariam pau a pau, em quantidade de carcaças automobilísticas, com aqueles cenários do Mad Max.

Toda vez que um amazonense (seja natural ou importado) conduz um veículo garagem afora, inicia-se uma batalha épica, quase religiosa. Só que ao invés de Bem contra o Mal, aqui temos o Péssimo contra o Deus me Defenda: em maior ou menor escala, seja por talento ou pelas circunstâncias, em Manaus todos dirigem desgraçadamente mal. A lista de pecados automotivos é interminável: pode ser um simples estacionar no meio da rua só pra comprar pão ou atender o celular (basta ligar o pisca-alerta que cê tá certíssimo e o resto da avenida que se esprema pra tentar passar). Ou, talvez, a Síndrome do Motorista de Aeroporto (pra quê rodar direitinho na sua faixa, se você pode plantar o carro NO MEIO da linha divisória? Que nem avião, que precisa seguir a faixa contínua pra não se perder da pista). Luz vermelha quer dizer "Ah, agora já passei, foda-se". Luz amarela quer dizer "Buzine pr´esse idiota aí da frente andar mais rápido, senão tu vais perder o sinal".

Buzinar, aliás, traz implícito todo um complexo sistema de comunicação que manda a etiqueta do trânsito às favas em nome da praticidade e agilidade: pra evitar acidentes, buzine. Pra pedir passagem, buzine. Pra chamar o jornaleiro ou paquerar a gostosa na calçada, buzine. Esprema a buzina também sempre que achar que pode, milagrosamente, andar mais rápido - mesmo que haja 150 carros na sua frente, o sinal esteja fechado e não haja a menor possibilidade, dentro da geometria euclideana, de você se deslocar dali - a não ser que seu carro tenha um par de hélices ou um propulsor a jato e seu nome seja Bond, James Bond.

Manaus não tem ligação decente por estradas com o resto do país. É, portanto, um tanto sobrenatural o número de caminhões gigantescos e carretas maiores ainda zanzando pra lá e pra cá, dentro e fora do horário comercial (transportando o quê? De onde? Pra onde? Não se sabe). E todos eles têm um prazer quase sádico em comprimir qualquer outro veículo com menos de três metros de altura por dez de comprimento que encontrem. Deve ser algum tipo de competição esportiva, algo que caminhoneiros e motoristas de ônibus discutam, contando vantagem no boteco: - "Hoje dei fechada em três palios, dois fuscas e um gol cara-chata, e você"? -"Ah, hoje eu tô devagar, só encostei nuns três celtinhas. Mas quase tiro uma D-20 da pista! D-20 vale dez pontos!". Quando outros competidores resolvem se juntar ao racha e você é azarado o bastante pra estar no lugar e hora errados (o que sempre acontece), tem-se a imagem do pesadelo: seu pobre carrinho espremido no sinal fechado, na hora do rush (que, ultimamente, é qualquer hora), tendo um caminhão à frente, um taxista atrás (buzinando e tentando ultrapassar sem dar sinal, como de hábito), um ônibus metendo as fuças pelos flancos e duas dúzias de motos de cada lado. Pânico.

Motos, por sinal (vermelho), merecem estudos mais elaborados, esmiuçados em um capítulo à parte dentro do Tratado Sobre Absurdos do Trânsito Baré. Afinal, em se tratando de motocicletas, a função "transporte" é secundária: sua principal raison d´être é servir como instrumento de controle populacional. Motoqueiros são abatidos às dúzias, das formas mais variadas e morbidamente criativas possíveis. Mas a espécie é uma das mais resistentes dentro do ecossistema urbano, possuindo mecanismos de sobrevivência (e reprodução) assustadores: a cada motoqueiro esbagaçado, surgem três pra ocupar o lugar. E eles ocupam QUALQUER lugar: não há critérios nas leis fundamentais da física capazes de explicar, com devida lógica, como uma Honda Biz consegue caber entre dois ônibus numa Avenida Brasil às seis da tarde.

Talvez seja o caso de sugerir ao nosso prefeito, que adora tapar alguns buracos (nas ruas e nos cargos públicos) e abrir outros tantos (também nas ruas, no orçamento e na própria imagem), uma nova campanha de conscientização para o trânsito. Mais direta, na veia, que fale explicitamente ao motorista manauense:

"EVITE ACIDENTES: FIQUE EM CASA."

7 comentários:

Anônimo disse...

Mano, minha mãe tem uma "teoria da ascendência" a respeito do trânsito. NOssos ancestrais indígenas "dirigiam" canoas. Nós queimamos muitas etapas, nada de bonde, charretes ou outros tipos de transporte. Da canoa, saltamos pros carros, o que nos leva sempre a dirigir no meio da rua, que é mais fundo, não tem igapó. E dar sinal pra quê com um riozão imenso deste!

Anônimo disse...

Taih, a Ziza explicou o drama. E como vc disse, estou mesmo pavula. Soh sei agora dirigir em auto-estradas a 120km/h, nao sei mais o que sao ruas esburacadas e calor no suvaco dirigindo meio-dia. Tou fina. hahahahaha Eu sei, eu sei, tou ficando MAIS nojenta, mas e dai se eu gostHo ? :P

Alexandre Nogueira Santana disse...

E explicou com muita propriedade: fica desde já como primeira teoria válida dentro do Tratado Sobre Absurdos do Trânsito Baré. Vou coçar o queixo com aquela cara de "hmmm..." por muito tempo graças à sua mãe, Ziza - meus sinceros cumprimentos a ela!

Eu não quero me imaginar dirigindo a 120 por hora. A Fiat também não.

Anônimo disse...

Menino vou te confessar que de "inicio" a caboca aqui achava que nao daria conta de dirigir nessa rapidez toda, non era "acostumada" sabe ? Daih que um dia marido disse: Volta dirigindo. E eu tive que pegar o carro e meter a cara. Comecei timidamente nos 90, daih fui pegando gosto pela coisa. Hj em dia ja entro na auto estrada nos 120, com medo de passar e levar multa de velocidade. Aqui eu tenho um peugeot garotão esportivo, conversivel, eu ME acho hahahaha Mas, marido comprou um tal de Volvo pra ele que eu non conhecia, e bicho, as catrais manauaras ficariam arrasadas com esse carro, tu mete o pé no acelerador maninho e ja ta a 120. periiiigooooo Somos o casal TOMMY e TASSIA do volante ( tommy achando e tassia achando). Pavula. Pavula.

Massssss tem um porém ! Os velhinhos aqui todos dirigem. Tu nao tem noçao que é o Dr. Thomas inteiro solto nas ruas. Eles vao a 50 geralmente... aih bicho tu emperra ali atras para sempre. E a habilitaçao aqui é assim: vc tira UMA vez na vida, e nunca mais precisa renovar... a bichinha é para sempre, amém. Carteira de Habilitação Permanente. Imagina. O velhinho la cegueta dirigindo... Pense !

Anônimo disse...

Pra mim, os motoqueiros, que tb povoam as ruas de SP, são iguais a carrapatos, se morrerem espremidos, soltam "ovos" e nascem mais 1000.
Por isso, se for atropelar algum, não os esprema, procure deixá-los intactos.
Nossa, será que vou ser processada por discriminação????

PS: Que bom que voltou!!!!

Alexandre Nogueira Santana disse...

Dani: mas aqui não é muito diferente! Tá cheio de carteiras de habilitação vitalícias (algumas até hereditárias...) conseguidas através de favores políticos e/ou sexuais (que no nosso país têm força de Lei, bem o sabemos). E Já que o Expresso não deu certo (oh, surpresa...), deveriam establecer uma "faixa geriátrica", de baixíssima velocidade, nas principais avenidas. No Vieiralves, principalmente!

Dé: não se preocupe. Ninguém processa ninguém no meu blog. Se fosse o caso, eu seria o primeiro a receber tal "honraria" (acredite, tem vários jornalistas que reagem a um processo com orgulho - é quase um pulitzer!). Valeu pelas boas vindas e volte sempre!

Anônimo disse...

Mano, minha mamãe sabe das ciosas! Vale um tratado mesmo!
Beijocas!