segunda-feira, 28 de maio de 2007
Faça você mesmo a sua macumbinha
E numa certa concessionária chicosa aqui de Manaus aconteceu o seguinte:
- Ô, Tonho? Lembra daquele matuto que chegou aqui arrastando chinelinho e a gente empurrou pra você, porque ninguém mais queria atender?
- Claro que lembro. Ele comprou duas picapes à vista e vocês tomaram no cu.
- Pois não é que o cara gostou tanto do teu atendimento que até resolveu te mandar um presentinho?
- CACETA! Mandou, foi? Cadê?!
- Tá lá no estacionamento... mas vai logo lá, que se o gerente souber, vai dar merda...
O vendedor "sortudo" foi lá, rindo até os cabelinhos do ouvido: faturar uma nota em comissão e ainda ganhar presentinho não é coisa que acontece todo dia. Mas logo ficou desconfiado ao ver os outros vendedores (os que tomaram no cu) se espocando de rir. Na entrada do pátio da concessionária, um caminhãozinho baú pra lá de requenguelo e o ainda mais requenguelo dono do caminhãozinho esperavam por ele.
"Tu que é o ´sêo` Tonho?", perguntou o tipo entre as brechas dos dentes ausentes. "Sou...", respondeu o vendedor, sem muita convicção. "Então tem uma incumenda aqui que mandaru pro sinhô". O caminhoneiro deu a volta na lataria desbeiçada, decorada com um nada discreto "FAIZ-SI FRETI" vermelho, e abriu o baú.
Dois bodes responderam "BÉÉÉÉÉ!!!" lá de dentro.
"ISSO é a encomenda? Só pode ser piada!"
"E eu tenho cara de palhaço? Trata de pegá logo esses bode, que só me pagaru frete de ida e esses dois fidido disgraçado me cagaru o baú todo!"
A essa altura, metade da folha de pagamento da concessionária já havia se aglomerado pra rir da cara do pobre vendedor (puro despeito, é claro). E ele, coitado, torcendo o nariz para o nada agradável aroma do presente incoveniente. Mas como o dono do caminhão não queria saber de acordo e tinha outras encomendas para atender, o jeito foi arrastar o par caprino pra fora e amarrá-los num cantinho lá do pátio até decidir que fim dar a eles. Sugestão não faltou...
"Empurra pra algum cliente. Diz que é promoção."
"Ah, claro! Compre uma Wagon Off-Road Super Luxo e leve emplacamento, tanque cheio e um par de bodes no porta-malas! A matriz vai comer meu fígado, porra!"
"Ah, são tão bonitinhos, Tonho... leva eles pro teu quintal!"
"E COMO eu vou enfiar dois bodes num quintal que mal cabe uma galinha, mulher? Ainda por cima, bode PRETO! Credo! Que DIABO eu faço com isso?"
"Já que cê falou no diabo... Bode preto é uma beleza pra fazer despacho! Corta a cabeça deles e enterra no quintal da concorrente..."
"DEUS que me DEFENDA! TU TÁ DOIDO de achar que eu vou fazer uma barbaridade dessas?
"Ué, tá com pena da concorrente?"
"TÔ COM PENA É DO BODE!"
O resto da história eu não sei. Uns dizem que os bodes viraram bingo no Rancho Country. Outros dizem que os bichinhos viraram buchada com farofa na Noite Paraense do Antares. Há ainda quem diga que eles tão nos classificados do Maskate, pra quem quiser comprar.
Mas se eu fosse vendedor da concorrência, ficaria tentado a ordenar uma escavação no quintal - caso detectasse uma súbita despencada nas vendas. O poder das sugestões malignas é algo assustador...
segunda-feira, 14 de maio de 2007
Maré Marrón
Dona Natureza faz linha "I-Love-You-Mas-Num-Fresque-Não". Ela quando se emputece dá de palmatória envernizada, meu povo. E não tô falando só de furacão Katrina ou outras catástrofes mega-tô-ferrado que a gente anda levando de troco, por conta do aquecimento global. Às vezes a vingança é das miúdas, mas mesmo assim causa estragos - nem que seja no orgulho.
Sêo Firmino cagou no rio. Pai de família respeitável, homem honesto, trabalhador, todo domingo com hóstia na língua. Mas cagou no rio. "Veio uma daquelas finas, não deu pra segurar!", tentou se desculpar ele depois da feita. Arrã. Mas não teve jeito: o rio contra-atacou e todo mundo viu. Se a cólica não matou o velho, a vergonha quase deu conta do trabalho.
Foi a modo assim: tava lá seu Firmino com a família no banho. Tinham uma lanchinha e volta e meia se picavam pruma dessas prainhas que se formam, aos montes, nesse nosso imenso rio Negro abençoado de Deus. Foi num desses momentos bubuia, em pleno riozão e meio afastado da beira, que - segundo consta - acometeu-lhe piriri dos brabos. Sêo Firmino olhou prum lado, olhou pro outro - a patroa distraída lá na areia, brincando com os netos - e ele pensou: "Vai ser aqui mesmo, ninguém vai nem notar...". Daí foi arrear o calção pro lado e Plop! Plop! Plop!, despejar nas águas até então limpíssimas uma verdadeira artilharia de torpedos marrons, que logo projetaram-se lépidos e fagueiros rumo à superfície.
Ah, mas não prestou. Assim que a merda subiu, veio banzeiro. Dos fortes.
Sêo Firmino se afastando da merda recém parida e o rio mandando a merda de volta ao emissor. E foge a nado, e a merda vai atrás. Vira, bate as mãos pra frente, e o toletão lá, atacando insistentemente. O esforço já fazendo o velho bufar, o desespero de fugir da bosta perseguidora deixando o homem agoniado, e foi dando uma cãibra... a essa altura, a tentativa de uma cagada aquática discreta já tinha ido literalmente por água abaixo: a cena era de fazer "Tubarão" parecer um filme da Disney. Mas lá na beira os netos do sêo Firmino, que já tinham dado conta da coisa, tavam era achando graça. Vibravam, feito torcida, com aquele nado sincronizado improvisado entre um ser humano e seu subproduto menos nobre.
Quem coroou esse momento tão sublime foi a esposa do sêo Firmino. Mulher daquelas despachadas, pôs as mãos nas largas ancas e ficou olhando, séria, por uns 5 minutos antes de esculhambar geral:
- "MUITO BONITO!", berrou ela - imediatamente chamando atenção dos poucos (e infelizes) banhistas ali presentes que ainda não tinham percebido a situação. "- UM HOMEM DESSA IDADE BRINCANDO COM MERDA!"
Sêo Firmino só não procurou um buraco aquático pra se afundar de vez porque antes cagado e humilhado que afogado. A vingança do rio foi simples, mas o trauma certamente vai ficar pro resto da vida.
Mas, falando francamente: que bom que nem sempre a Mãe Natureza é uma bruaca assim tão rancorosa e vingativa. Se ela adotasse tal comportamento como padrão, devolvendo toda merda que recebe, nossa espécie já teria sido dizimada.
terça-feira, 8 de maio de 2007
Baú Bizarro: Tchaca-Tchaca naftalinado!
Promessa é dívida: como parte das comemorações pelos três anos de bizarrices, tá aberta a sessão "Baú Bizarro" - onde vão figurar, de quando em quando, besteiradas clássicas de versões anteriores do blog. Começando por essa aqui: uma das primeiras (e mais longas!) colunas do nosso rato-de-festa preferido!
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Corre, cabocada, que o rato voltou!
Pobre não tem nada, mas é tudo!
Esnobando um impecável bronzeado naquele tom mormaço-na-laje-do-São-Raimundo, depois das longas férias no badaladíssimo Lago do Canaçari (sorry, Hamptons!), eis que ele está de volta! Tchaca-Tchaca, o Rato mais Hype dos igapós de Manô, reassume sua coluna anti-social no laureado alfarrábio do chefe Bizarro Kid! Para alegria da reculhamba de plantão, ele volta com o dicionário de caboquês atualizadíssimo e mais cheio de novidade que artista parintinense voltando do carnaval no Rio. Se joga, maninho rato!
.....................................
Se Joga! Se joga em terra alheia!
Foi a modo qualquer coisa de paidégua o rasga-velha da Nhanhá Palmira lá no Suvaco da Cobra! Tinha de tudo na randevú da hostess mais badalada da novíssima comunidade Vila da Carbrás: caldo de bodó, guisado de paca com colorau, maniçoba com leite de amapá e - pasmem! Até buchada, iguaria finíssima nos dias de hoje (em que o Fome Zero não faz nada pra coibir o aumento abusivo da cotação do bode no mercado).
Nhanhá Palmira, que além de anfitriã das mais finas é também a honorável matriarca de uma igualmente honorável família de posseiros santarenos, partiu para o Pará de seu berço - provisoriamente, é claro - e promete retornar de lá na primeira frota de rabetas, carregando debaixo da asa um número de parentes suficiente para abarrotar 3 presídios do Puraquequara e 2 Vivaldões em dia de show da Calypso. E vem todo mundo pra ficar, pois como diz a própria Nhanhá, "Terra Boa é Aqui! Ninguém aparece pra derrubar nosso barraco!" Isso é que amor por Manaus!
..................................................
“Fecho os olhos pra não ver passar o rato...”
"Tira o pé do chããããão!!!" - Mas tira MESMO, manazinha!
Tchaca-Tchaca não confirma nada, mas a rádio-corredor é cruel: abismada, uma assídua leitora passou mensagem pro meu pre-paid cell só pra dizer que apareceu uma ratazana, daquelas criadas com fubá, bem no meio do bafafá Axé-Vip promovido pela Amazônia Selo-Lá na prainha daquele hotel wild-chicoso (que vocês já sabem qual é). O mucurão bombado apavorou geral na tertúlia dos bacanas e teve gente dizendo que era eu! Mas quando, já? Eu nem fui convidado pra festa, gente...
Agora, imagino a cena: mil patricinhas convidadas, que atraíram outras duas mil raimundinhas penetras, dançando bundalelê espremidas na praia, fazendo o maior esforço pra ralar o tcham na boquinha da garrafa... até descobrir que, na verdade, estavam mesmo era ralando o tcham no focinho da mucura. Considere o rebu.
O ilustre roedor que entrou de bicão deve bem ter sido aquele meu primo metido a fino, que se amarra num babado... novo! Pois na próxima, eu também vou! Vai dar mais rato que piranha nessa praia! Uhúúú, Já é!
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Esporte não é Saúde! Mas Pratique assim mesmo!
Quem é fino de verdade não se aperta com dificuldades: nóis é pobre, mas nóis semo é apresentado, Baby! É por isso que a tradicionalíssima comunidade do Buraco do Pinto organizou um novo calendário desportivo e de lazer, coincidindo com as enchentes que assolam suas esburacadas ruas inverno sim, outro também: as Olimpíadas do Bodó! Compostas apenas de provas aquático-lamacentas, as Olimpíadas estimulam a camaradagem entre vizinhos, ajudam a atenuar a deprê de perder tudo no alagão e têm baixíssimo impacto ambiental - já que tudo que podia causar poluição já foi arrastado pela enxurrada, mesmo... Simples e brilhante demonstração do espírito esportivo e adaptabilidade do nosso caboclo, capaz de tirar proveito das mais funestas circunstâncias!
Confira agora as três principais provas deste ano e seus respectivos vencedores:
- Revezamento quatro por meia dúzia: ganha a família que conseguir organizar um mutirão-relâmpago para tirar todos os móveis de dentro de casa, a tempo de salvá-los da enchente. Conseguir carregar a geladeira valia 10 pontos; sofá valia 15 - mas só se ele já estivesse encharcado (pesa mais e torna o desafio maior). Ganhou a tradicionalíssima família Pinto, que não deu nome ao bairro por nada: seus competidores são a epítome da garra e da perseverança que só décadas de infortúnio conseguem produzir no espírito humano. Aplausos!
- Medley Malária: longa e duríssima prova de resistência - praticamente a Maratona da Olímpíada do Bodó. Ganha o último morador da comunidade que conseguir permanecer de pé, mesmo depois de contrair uma inevitável malária. Também qualificam para a competição todas as infindáveis variantes de Pragas da Enchente: leptospirose, febre amarela, dengue e até mesmo sua vertente mais aterradora, o OVNIMA (Objeto- Virótico-Não-Identificável-por-Médicos-Amazonenses). Em um resultado polêmico, o troféu ficou com o pedreiro Totonho Espoca-Conga, que havia sido o segundo colocado na prova - uma vez que o verdadeiro vencedor, conhecido apenas como Sêo Matinha, foi considerado hors concours: ele já contraiu todas as doenças tropicais catalogadas no Alfredo da Mata (e mais um bocado das não catalogadas), permanecendo inexplicavelmente vivo. Dizem que ele tomou a garrafada milagrosa da Dona Nêga, que cura até dor de corno. Com isso, Sêo Matinha, apesar dos protestos, não levou o prêmio e ainda está sendo investigado por suspeita de dopping. Trágico.
- Corrida de Correnteza (com barreiras): nessa prova, os competidores se agarram a portas, tampas de mesas, pneus, isopor de picolezeiro ou qualquer coisa que flutue e tentam chegar vivos ao fim da Cachoeira Central (que, em meses menos chuvosos, também é conhecida como Avenida Getúlio Vargas). Tivemos duas vencedoras: as gêmeas Xuxa e Duquesa, vira-latas do Chico Padeiro. Montadas em um bote de plástico-bolha, as cadelinhas chegaram parcialmente conscientes à linha de chegada e fizeram por merecer o prêmio (e o resgate). Jenniffer Camilly, caçula da família Pinto, ganhou um prêmio especial por concluir a prova com menos danos: apenas uma pneumonia, uma amebíase e três costelas fraturadas (um recorde!)
O evento deveras emocionante encerrou-se com o comovente discurso do morador mais velho do bairro, Sr. Pinto "Molhado" (o epíteto carinhoso é tão antigo quanto o próprio bairro), lembrando a todos que no ano que vem vai acontecer tudo de novo - quer queiram, quer não. Os troféus - mimos concebidos pela Jacinta costureira em forma de mosquito da malária, confeccionado com molas de colchões inaproveitáveis - eram um espetáculo à parte. Só o que não prestou foi a dona Juçara, que entregava os troféus. Com ares de dona da festa, tava se achando o pitó, toda de preto e com aqueles óculos de aro grosso, parecendo o Carão da Ciranda. Nota zero para essazinha, que desde que ganhou no bicho e assinou a Caras de 3 vezes no Fininvest pensa que é fina! Mais fácil secar o Buraco do Pinto a rodo do que alguém dar trela pra marmota dessa bruaca abilesada... Mas quando, já?
...................................
E por hoje, a modo, é só. Mês que vem eu tô de volta, fazendo a cobertura exclusiva do acontecimento mais comentado da moda-baixada: Cacau Pirêra Féxion Uíqui 2005!
(Publicação original: Quarta-feira, 27 de Abril de 2005. Mais ou menos.)
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Corre, cabocada, que o rato voltou!
Pobre não tem nada, mas é tudo!
Esnobando um impecável bronzeado naquele tom mormaço-na-laje-do-São-Raimundo, depois das longas férias no badaladíssimo Lago do Canaçari (sorry, Hamptons!), eis que ele está de volta! Tchaca-Tchaca, o Rato mais Hype dos igapós de Manô, reassume sua coluna anti-social no laureado alfarrábio do chefe Bizarro Kid! Para alegria da reculhamba de plantão, ele volta com o dicionário de caboquês atualizadíssimo e mais cheio de novidade que artista parintinense voltando do carnaval no Rio. Se joga, maninho rato!
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Se Joga! Se joga em terra alheia!
Foi a modo qualquer coisa de paidégua o rasga-velha da Nhanhá Palmira lá no Suvaco da Cobra! Tinha de tudo na randevú da hostess mais badalada da novíssima comunidade Vila da Carbrás: caldo de bodó, guisado de paca com colorau, maniçoba com leite de amapá e - pasmem! Até buchada, iguaria finíssima nos dias de hoje (em que o Fome Zero não faz nada pra coibir o aumento abusivo da cotação do bode no mercado).
Nhanhá Palmira, que além de anfitriã das mais finas é também a honorável matriarca de uma igualmente honorável família de posseiros santarenos, partiu para o Pará de seu berço - provisoriamente, é claro - e promete retornar de lá na primeira frota de rabetas, carregando debaixo da asa um número de parentes suficiente para abarrotar 3 presídios do Puraquequara e 2 Vivaldões em dia de show da Calypso. E vem todo mundo pra ficar, pois como diz a própria Nhanhá, "Terra Boa é Aqui! Ninguém aparece pra derrubar nosso barraco!" Isso é que amor por Manaus!
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“Fecho os olhos pra não ver passar o rato...”
"Tira o pé do chããããão!!!" - Mas tira MESMO, manazinha!
Tchaca-Tchaca não confirma nada, mas a rádio-corredor é cruel: abismada, uma assídua leitora passou mensagem pro meu pre-paid cell só pra dizer que apareceu uma ratazana, daquelas criadas com fubá, bem no meio do bafafá Axé-Vip promovido pela Amazônia Selo-Lá na prainha daquele hotel wild-chicoso (que vocês já sabem qual é). O mucurão bombado apavorou geral na tertúlia dos bacanas e teve gente dizendo que era eu! Mas quando, já? Eu nem fui convidado pra festa, gente...
Agora, imagino a cena: mil patricinhas convidadas, que atraíram outras duas mil raimundinhas penetras, dançando bundalelê espremidas na praia, fazendo o maior esforço pra ralar o tcham na boquinha da garrafa... até descobrir que, na verdade, estavam mesmo era ralando o tcham no focinho da mucura. Considere o rebu.
O ilustre roedor que entrou de bicão deve bem ter sido aquele meu primo metido a fino, que se amarra num babado... novo! Pois na próxima, eu também vou! Vai dar mais rato que piranha nessa praia! Uhúúú, Já é!
....................................
Esporte não é Saúde! Mas Pratique assim mesmo!
Quem é fino de verdade não se aperta com dificuldades: nóis é pobre, mas nóis semo é apresentado, Baby! É por isso que a tradicionalíssima comunidade do Buraco do Pinto organizou um novo calendário desportivo e de lazer, coincidindo com as enchentes que assolam suas esburacadas ruas inverno sim, outro também: as Olimpíadas do Bodó! Compostas apenas de provas aquático-lamacentas, as Olimpíadas estimulam a camaradagem entre vizinhos, ajudam a atenuar a deprê de perder tudo no alagão e têm baixíssimo impacto ambiental - já que tudo que podia causar poluição já foi arrastado pela enxurrada, mesmo... Simples e brilhante demonstração do espírito esportivo e adaptabilidade do nosso caboclo, capaz de tirar proveito das mais funestas circunstâncias!
Confira agora as três principais provas deste ano e seus respectivos vencedores:
- Revezamento quatro por meia dúzia: ganha a família que conseguir organizar um mutirão-relâmpago para tirar todos os móveis de dentro de casa, a tempo de salvá-los da enchente. Conseguir carregar a geladeira valia 10 pontos; sofá valia 15 - mas só se ele já estivesse encharcado (pesa mais e torna o desafio maior). Ganhou a tradicionalíssima família Pinto, que não deu nome ao bairro por nada: seus competidores são a epítome da garra e da perseverança que só décadas de infortúnio conseguem produzir no espírito humano. Aplausos!
- Medley Malária: longa e duríssima prova de resistência - praticamente a Maratona da Olímpíada do Bodó. Ganha o último morador da comunidade que conseguir permanecer de pé, mesmo depois de contrair uma inevitável malária. Também qualificam para a competição todas as infindáveis variantes de Pragas da Enchente: leptospirose, febre amarela, dengue e até mesmo sua vertente mais aterradora, o OVNIMA (Objeto- Virótico-Não-Identificável-por-Médicos-Amazonenses). Em um resultado polêmico, o troféu ficou com o pedreiro Totonho Espoca-Conga, que havia sido o segundo colocado na prova - uma vez que o verdadeiro vencedor, conhecido apenas como Sêo Matinha, foi considerado hors concours: ele já contraiu todas as doenças tropicais catalogadas no Alfredo da Mata (e mais um bocado das não catalogadas), permanecendo inexplicavelmente vivo. Dizem que ele tomou a garrafada milagrosa da Dona Nêga, que cura até dor de corno. Com isso, Sêo Matinha, apesar dos protestos, não levou o prêmio e ainda está sendo investigado por suspeita de dopping. Trágico.
- Corrida de Correnteza (com barreiras): nessa prova, os competidores se agarram a portas, tampas de mesas, pneus, isopor de picolezeiro ou qualquer coisa que flutue e tentam chegar vivos ao fim da Cachoeira Central (que, em meses menos chuvosos, também é conhecida como Avenida Getúlio Vargas). Tivemos duas vencedoras: as gêmeas Xuxa e Duquesa, vira-latas do Chico Padeiro. Montadas em um bote de plástico-bolha, as cadelinhas chegaram parcialmente conscientes à linha de chegada e fizeram por merecer o prêmio (e o resgate). Jenniffer Camilly, caçula da família Pinto, ganhou um prêmio especial por concluir a prova com menos danos: apenas uma pneumonia, uma amebíase e três costelas fraturadas (um recorde!)
O evento deveras emocionante encerrou-se com o comovente discurso do morador mais velho do bairro, Sr. Pinto "Molhado" (o epíteto carinhoso é tão antigo quanto o próprio bairro), lembrando a todos que no ano que vem vai acontecer tudo de novo - quer queiram, quer não. Os troféus - mimos concebidos pela Jacinta costureira em forma de mosquito da malária, confeccionado com molas de colchões inaproveitáveis - eram um espetáculo à parte. Só o que não prestou foi a dona Juçara, que entregava os troféus. Com ares de dona da festa, tava se achando o pitó, toda de preto e com aqueles óculos de aro grosso, parecendo o Carão da Ciranda. Nota zero para essazinha, que desde que ganhou no bicho e assinou a Caras de 3 vezes no Fininvest pensa que é fina! Mais fácil secar o Buraco do Pinto a rodo do que alguém dar trela pra marmota dessa bruaca abilesada... Mas quando, já?
...................................
E por hoje, a modo, é só. Mês que vem eu tô de volta, fazendo a cobertura exclusiva do acontecimento mais comentado da moda-baixada: Cacau Pirêra Féxion Uíqui 2005!
(Publicação original: Quarta-feira, 27 de Abril de 2005. Mais ou menos.)
quinta-feira, 3 de maio de 2007
Cumé mermo que liga issaqui, maninhozinho?
O nome parece um palavrão: "Programa de Ensino Médio Presencial por Mediação Tecnológica". Apertando a tecla SAP, trata-se de uma espécie de upgrade do Telecurso Segundo Grau: aulas do currículo nacional ministradas via TV. A diferença é que a coisa ganhou contornos maiores, já que o aluno não fica mais apenas babando na frente da telinha e fazendo cara de paisagem toda vez que bóia na explicação e não tem botão rewind pra apertar. Agora há toda uma "plataforma didática digital multiserviço", movida a conexão via satélite de banda larga-e-meia. O que permite turbinar a coisa toda com videoconferência, mensagem instantânea, transmissão de vídeo à YouTube, quadro branco eletrônico e o escambau. Assim, num esquema de deixar os Jetsons babando, trocentos alunos podem interagir e participar de uma única aula, mesmo que o professor esteja lá no caixa-prego.
Lindo. Só tem um probleminha: o projeto foi criado pela Seduc pra oferecer aulas do ensino médio a estudantes de 300 localidades rurais do Amazonas.
Localidades rurais. Do Amazonas. Pais e mães que se penduram 30 dias num motor de rabeta só pra levar filho pro médico na capital. Professores que nunca participaram de uma teleaula - até por que mal TV eles têm. E estudantes cujas escolas, até ontem, não tinham nem giz. Todos gente de valor - digna, esforçada, inteligente, capaz. Mas também gente pra quem a tecnologia é, literalmente, coisa de outro mundo.
E aí, o quê que a gente faz? Fácil, diz o povo da Seduc. Vamos gerar "multiplicadores". Pega 260 professores dessas comunidades rurais escohidas pra receber o Programa, soca todo mundo no Tropical Hotel (!) e vamos oferecer um curso mega-intensivão de 11 dias, pra fazer Inclusão Digital neles sem vaselina. A cabocada matuta vai sair daqui antenadíssima, ultra-high, o máximo - dando aula de wireless, uplink e downlink, streaming, telefonia IP e o caralho de asa. Tudo bem, antes a gente vai ter que ensinar umas coisinhas básicas também - tipo, o que diabos é um computador, pra que serve o botão de "ligar" e tudo o que vem depois disso. Ah! Cabe ainda um sarau-relâmpago de etiqueta, tipo Danuza Leão em 10 lições, pra demonstrar a essa gente singela tudo o que se deve (e, principalmente, o que NÃO se deve) fazer num hotel 5 estrelas. Lições tipo "o garfo é seu amigo", "A piscina é pra banhar e não pra lavar roupa" e "Porque não devo levar pra casa essas toalhas e travesseiros tão bonitinhos?".
É. Vai dar merda.
Mas, no fim, tudo é por uma ótima causa - e há de funcionar. A agência na qual eu trabalho a ferros foi contratada pra dar suporte e fazer um documentário institucional. Tudo sobre esses 11 dias na Ilha Digital da Fantasia. Rezem por mim: se eu sobreviver à pressão, Bizarro Kid vai ter assunto pra 10 anos.
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