quinta-feira, 18 de junho de 2009

ARRUDEIA, PLAYBOY!


Os índios da América do Norte não conheciam o cavalo. Os do Amazonas também não: eles saltaram das canoas direto pras motocicletas da Zona Franca, e é por isso que pilotam daquele jeito. Tava eu lá, parado no cruzamento, e tive a burrice de respeitar a margem de segurança da faixa de pedestres. Pra quê. De repente a Filial Inferno da Honda me despacha uma, duas, oito motocas devidamente empoleiradas por proletários das mais variadas subespécies, que por mistérios da vida julgaram caber todos juntos nos três metros quadrados que separavam as fuças do meu Palio do infeliz grupo de pedestres que resolvera atravessar por ali.

É claro que ia dar merda. Vendo seu espaço invadido, os pedestres foram abrindo caminho na selva de motoboys à base de grunhidos, empurrões e sacoladas do Carrefour (daquelas peso-pesado, que era dia de promoção). Em centésimos, teve início um bate-boca dos mais entusiasmados - e bem na frente do meu carro, óbvio, que é pra eu não perder o hábito de sempre me fuder no trânsito, não importam as circunstâncias.

Veio azulzinho apitando. Veio um monte de pobre dos carros ao lado, que resolveram parar pra assuntar (porque pobre adora um barraco). Veio vendedor de pitomba e de raquete elétrica de matar carapanã (eu comprei uma). O sinal abriu. Fechou. Abriu de novo. Nos 50 segundos seguintes, consegui identificar 18 tipos diferentes de buzinas estridentes soando atrás de mim. Nos demais 120 segundos eu não consegui identificar mais nenhuma.

Daí saí do carro, chamei a atenção do delinquente categoria "A" mais próximo e gesticulei, em pânico, pra arruaça que estava se formando por causa daquela briga besta.

A resposta da criatura? Uma impenetrável cara de "vai-te pra PQP" e um berro histriônico: "ARRUDEIA, PLAYBOY!"

Ah, minha fleuma caboclo-britânica. Respirei fundo, entrei no carro devagar, engatei a primeira... e, placidamente, "arrudiei" mesmo. Por CIMA do pacote que o simpático havia deixado no chão, na hora da discussão. E pude ouvir, com indisfarçada satisfação, aquele sonzinho inigualável vindo lá de dentro - o tipo de som que bugigangas caras costumam fazer quando destroçadas.

Tá vendo só? As pessoas reclamam demais. É perfeitamente possível aproveitar o trânsito pra aliviar o stress.

Nenhum comentário: