sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

REVOLTAS CULTURAIS DE BIZARRO KID


Revolta nº1: ENGASGADO COM JARAQUI

O Greenpeace que não me ouça, mas o preciosismo regionalista de certas personalidades amazonenses pretensamente cult me dá vontade de pôr todo esse matagal abaixo e construir um puta shopping no lugar. Não que eu não tenha Orgulho de ser Amazonense®. Ainda acho que um bom caldo de peixe barra qualquer Burger King do planeta, e que ver um pôr-do-sol equatorial com os dois pés de bubuia na água morna do Rio Negro é pra lavar a alma de qualquer um. Mas, caceta, parece que TUDO o que se escreve, canta, dança, filma, pinta ou borda nessa cidade TEM que obrigatoriamente incluir “referências regionais”. E dá-lhe jaraqui, farinha, boi, tucupi, floresta, rio e cheiro da minha cabôca. Será que alguém já se tocou que Manaus, goste ou não, cresceu pra burro e metade dessa curuminzada nascida e criada na Metrópole da Amazônia® nunca viu uma onça fora as do CIGS e nunca pescou uma única piranha na vida (a não ser aquelas besuntadas de Kolene no Forró do Bagaça)?

Quer matar um redator publicitário de raiva é virar pra ele e tascar um “Ah, faz aí um VT REGIONAL". “Escreve um jingle TIPO TOADA”. Então, tá. É só arrumar umas regionalíssimas índias gostosonas Made In Zona Leste e encher os traseiros delas com igualmente regionalíssimas penas de arara Made in Taiwan. Ou então rodar três horas de voadeira pra ir até aquela tribo de tradições 100% autênticas e negociar casting com índios que só aceitam pagamento em dólar e calção Adidas (espelhinho tá out). O último indiozinho de verdade que eu encontrei pra rodar um comercial tava correndo atrás de uma mucura e gritando “Pikachu, Pikachu!”. Senhores regionalistas xiitas, vão cagar no mato e deixem minha alienação capitalista urbanóide em paz.



Revolta nº2: TÃO ME AGOURANDO!

Entre os “1.000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer”, os “100 Filmes para Ver Antes de Morrer” e os “1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer ou Pedir Divórcio”, eu me pergunto se as livrarias um dia vão voltar a dedicar espaço de destaque em suas estantes à literatura feita pra gente normal – do tipo que, como eu, não pretende morrer tão cedo.

Meu epitáfio, a ser escrito num futuro Deus queira bem distante, certamente não será um checklist das coisas que fiz ou deixei de fazer, muito obrigado. Até porque não caberia no túmulo, a não ser que eu fosse um faraó. Ninguém em seu juízo perfeito faz questão de lembrar da óbvia e dolorosa constatação de que todos nós vamos empacotar um dia - sem ter feito, dito, conhecido, comido ou cometido metade das coisas e pessoas que pretendia. Até porque, antes dessa moda macabra e agourenta de roteiros pré-morte ser lançada no mercado literário, já havia em boa quantidade livros cuja função parece ser a de acelerar a putrefação do leitor – taí as séries esgotadas do Lair Ribeiro e do Paulo Coelho que não me deixam mentir.

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E esse foi só o primeiro par de Revoltas, do que promete virar uma série... Matéria-prima é que não me falta.

Um comentário:

DaniG. disse...

Eu precisava muito ir até Manaus viver meu regionalismo nagô (nagô nera da Bahia, mano?).

Tb acho UÓ esse lance de "antes de eu morrer". Sai pra lá urubu.

Saudades de ti caboquinho !