quinta-feira, 26 de julho de 2007

A Balada da Bolete Bolada


- Dá pra eu dormir na tua casa hoje? Qualquer sofá serve. Tô com medo de voltar pra minha.
- Vígi, por que?
- Porque o sonho da mamãe era ser bolete.
- Ahm, isso vai ser interessante.
- Bolete, sabe? Aquelas mulheres lá que dançavam trepadas em poleiros, no programa "Clube do Bolinha".
- Mas que cisma foi essa justo com as boletes? Não era mais chique ser chacrete nessa época?
- Mamãe não gostava das chacretes. Achava as boletes muito mais autênticas.
- Ah.
- Verdadeiras artistas, entende?
- Sério? Pra mim, parecia um bando de semi-coroas buchudas que rebolavam meio troncho, de um lado pro outro, com penas enfiadas na cabeça e celulites enfiadas em maiôs ridículos. Sequer se davam o trabalho de sorrir pra câmera.
- Aí é que está a autenticidade.
- É. Faz sentido.
- Daí diz que tinha um maiô de bolete original à venda no Mercado Livre. A velha ficou doida e pediu pra eu comprar, que ela pagava o que fosse pra ter um. Mas eu esqueci e quando fui lá no site já tinham comprado.
- Chato, não?
- Chata vai ficar a minha cara se eu voltar pra casa e encarar a velha. Ela tá completamente despombalizada do juízo e falou que vai me encher de porrada, porque eu fiz ela perder o maiô dos sonhos dela. E aí, vai dar pra eu dormir no teu sofá ou não?
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Às 10 da noite de uma quarta-feira, resolvi nunca mais reclamar de problemas comuns.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

"Você Nasceu Para Voar". Nem que seja aos pedaços.


O slogan da TAM é bem a cara da atual situação do transporte aéreo no Brasil. De fato, você nasceu para voar. Depois de dias numa fila, mas voa. Pagando a passagem em doze vezes, sendo desrespeitado, não relaxando e muito menos gozando, mas voa. Transformado em fumaça, mas, ah! Voar, você voa.

Trocentos cadáveres numa tragédia anunciada e todos os possíveis porquês só servem pra nos deixar com ainda mais vontade de voar - nos pescoços desse bando de assassinos filhos duma puta. Mas gente, a culpa também é nossa. Vamos entender o lado deles. Ah, a pista tava molhada e não tinha ranhuras suficientes para drená-la e evitar aquaplanagem? Da próxima vez, a Infraero chama os tiozinhos da limpeza pra ir lá passar um rodo, aí tudo bem, né? Tá certo, o avião também tava meio escangalhado e voando na marra, mas e daí? O avião tava na garantia, ainda não tinha quilometragem suficiente pra ir pra revisão - nem ia dar pra descolar um descontinho, daí imagina o prejú no bolso dos pobres donos da companhia aérea, tadinhos! Como é que eles iam adivinhar que uma simples turbina com defeito pudesse fazer o avião cair? Ah, povinho sem paciência! Quando não tem vôo, reclamam. Quando liberam vôo nas coxas, reclamam. Que saco.

A culpa dessa crise toda não é das empresas de transporte aéreo, gente. Nem da Infraero. Nem mesmo dos ceguinhos do Sindacta. A culpa é da gravidade. Avião não é seguro. Vamos ficar quietinhos mais uma vez, sem reclamar. Nos conformemos em saber que bom mesmo é viajar de canoa - que bóia. E se afundar, você aprende a nadar e pronto. Aprender a voar sozinho é que não dá. Até mesmo carro é mais confiável. Deu prego? Pior é no céu, que não tem acostamento. Bateu? Pelo menos você tem a quem culpar.

Avião, não. Com avião, dependendo da quantidade de pecados (seus e da companhia aérea), você vai pro Céu e já fica por lá mesmo: São Pedro sequer tem o trabalho de ligar o elevador. É uma experiência metafísica, religiosa até: do inferno dos aeroportos para o paraíso dos plantões de notícias em milésimos de segundo. Despedir-se da família antes de viajar fica ainda mais emocionante: você não sabe se vai voltar a vê-los mesmo, então dá-lhe sentimentalismo. Eu acho lindo. Mas, só por garantia, já programei minhas próximas férias: um passeio ecológico. Nunca houve tanta procura por pacotes de caminhada nas agências de turismo...