terça-feira, 10 de março de 2015

Santa Água no Joelho

Se Deus fizesse comédia em pé já teria acumulado mais processos que o Rafinha Bastos. O Homem, convenhamos, tem um senso de humor meio torto (vai dizer que colocar asa em barata não foi bullying?)

Tava lá o padre fiscalizando os reparos na velha igreja quando se deparou com Sebastião mijando: a goteira cismou de aparecer justamente em cima da imagem do santo - que já é acusado de indecente pelas mais carolas pelo fato de não usar lá muita roupa - e a água lhe caía do furo no teto bem em cima da cabeça, descia-lhe pelo esbelto corpo crivado de flechas, acumulava-se nas dobras dos trapos da cintura e, quando a gravidade não dava conta da incontinência, o santo mijava. Um constrangimento que beirava o sacrilégio!

Padre, zeloso que era, na mesma hora manda chamar o pedreiro de plantão - que, coincidência ou ironia, também se chamava Sebastião (mas só no batismo: na vida já tinha virado só Tião fazia tempo; afinal, diferente do santo, era feio e preto).

Tião olha praquela situação insólita e, fiel dos mais fervorosos, diz pro padre que não vai consertar a goteira, não senhor. 'Eras-te, Seo Vigário, fazer um santo mijar só pode ser obra de Deus!'

Padre chega mudou de cor diante daquela insinuação. Insistiu no conserto do teto, reclamou, xingou, quase excomungou mas não teve jeito: Tião estava tão convencido do milagre que não se fez de rogado em tirar o boné surrado, ajoelhar, aparar o mijo da imagem do xará canonizado e esfregar na testa, fazendo sinal da cruz e tudo.

Tião, coitado, deve ter sido o primeiro caso registrado na justiça do trabalho de demissão por heresia. A goteira foi consertada, tempos depois, por um pedreiro menos afeito a sinais divinos disfarçados de erosão hídrica.


Mas há quem diga que viu o Tião por aí, mais religioso que nunca, afirmando com as mãos no peito que se curou da bebedeira com mijo de santo...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Gringo Viado Acrobata

Olha, eu juro que racho um dobrado pra tentar ser uma pessoa melhor. Paro na faixa até pra gente feia, dou conversa pra hippie com gaita, deixo a doida que anda pelada pelo Vieiralves mijar no meu pé, de boa. Mas é tiro e queda: sempre rola alguma situação que me mostra o quanto eu sou fela da puta - e logo um daqueles orgânicos, naturais: a feladaputagem segrega dos meus poros sem que eu faça nenhum esforço.

 Tava lá o gringo. Mas não, pera; vamo contextualizar: tava o lá gringo na Ponta Negra - e gringo na Ponta Negra já é um combo digno de nota. Ponta Negra, cês sabem: cartão-postal de Manaus (provavelmente o único). Tem o calçadão, tem as luzes, tem a porra do chafariz que eu nunca vi ligado mas diz-que quando liga é de umedecer as xoxota de tão lindo, e tem o barranco escroto que eles tentaram embelezar, mas não deu muito certo - aquele barranco perto do anfiteatro, que tem uma passarela em cima, um mirante do lado e um monte de farinhado (do buxo cujo perfilado lembra o "B"de "Barriga" da cartilha Caminho Suave - quem for velho vai lembrar) lá em baixo, paquerando as catirina.

E tinha o Gringo. Gringo, sem nenhum extra, já é uma figura engraçada: os do tipo alfa, igual ao referido, têm sempre aquela carona vermelha de quem nunca aprendeu a passar mais de meia camada de filtro solar; aquela expressão meio abestalhada de oh beautiful; umas roupas fiéis ao look cada peça de uma cor e cujos tamanhos são escolhidos sob medida pra vestir mal; tudo isso emoldurado por infalíveis meiões de Maria Mijona, quase até a virilha, que eu não faço ideia de onde eles compram, mas parece que é kit obrigatório exigido pela Casa Branca, sob pena de deportação. Claro que brasileiro lá fora também é motivo de deboche pra meio mundo - porque brasileiro adora fazer macaquice em terra dos outros, como se fosse o quintal com pagode e banho de borracha da mãe deles. Mas só gringo tem essa mágica de provocar risada até parado em pé sem fazer nada.

 Voltando: esse gringo em particular, que poderia muito bem ter ficado em pé sem fazer nada pra evitar o pior, resolveu ser mais ousado e improvisar um esporte radical ali mesmo: ignorou a escadaria lateral que garantia uma jornada assim, mais civilizada, pra quem quisesse descer o barranco. Esticou o meião direito rumo ao abismo, depois o esquerdo, pra descer na marra estilo cabra do Himalaia.

 Cês já imaginam a merda que isso tinha que dar.

 Ele não caiu. Ele quicou. Veio aquele pogobol humano se desembolando uns 5, 6 metros barranco abaixo e cada quicada era uma medalha olímpica: a Dayane dos Santos pode pinotar o resto da vida até ficar com a bacia troncha e não vai conseguir repetir a magia daquele momento. Quando o barranco já não tinha mais nenhuma verticalidade a oferecer, a gravidade apresentou o grigo ao chão levemente mijado da Ponta Negra, com a mesma delicadeza que um motorista da Bertolini passa por cima de um buraco.

 Eu tava passando por ali numa das minhas esperançosas tentativas de enxugar 20 anos de cerveja em 30 minutos de trote arrastado. Vi o OVNI gringo voltar ao planeta igual disco de pizza quando o pizzaiolo se distrai. Por um momento, fiquei naquele dilema terrível: será que eu corro pra ajudar a criatura, que afinal de contas contribui enormemente (e em dólar) para as divisas do meu estado? Ou será que simplesmente me cago de rir na frente dele, como estou muito inclinado a fazer?

 Mas o dilema moral durou pouco: o gringo era viado. E viado, cês devem conhecer, tem aqueles superpoderes mutantes que ninguém adivinha, até que eles se manifestam. E o poder do gringo era o mesmo do The Flash: a bicha-relâmpago. No que bateu no chão, eis que o importado já se aproveitou da energia cinética e - sabe Deus como - chapou, chapuletou, jogou cotovelo prum lado, braço pro outro, girou tracajá no casco, paranauê, rabo de arraia, empinou, subiiiiiiiu... e em menos de DOIS SEGUNDOS era Anjo da Vitoria Secret - sem putaria: mão na cintura, queixo pro alto, passinho, pivô, beijinho no ombro, faz cara de rica e meu cu pras invejosa.

 Véi, eu fiquei TÃO impressionado com a velocidade que a porra da bicha foi do chão ao camarote que eu não consegui rir: o queixo travou. Meu primeiro impulso depois disso foi pegar o celular e filmar aquilo pra mandar pro padre Quevedo ou pra Nasa, porque era coisa do Além. Mas não deu tempo. Que mais eu podia fazer? Só uma coisa: comecei a aplaudir ali mesmo, gritando ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRAAAA... EVOLUÇÃO... DEEEEEEZ!

 Aquilo foi uma lição de vida. Tinha que ser gravado, estudado e virar palestra no TED. Sair de uma quase fratura múltipla e instantanemanete ficar de pé pra jogar beijo de carro alegórico é uma prova de superação e vontade humanas das mais raras. Sorry, terceiro mundo: vocês têm muito o que aprender.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Quando a Rádio Panorama de Itacoatiara só toca Lady Gaga e o BOPE precisa de autorização da Globo pra matar traficante, sinto que já tá na hora de arrancar Bizarro Kid de seu soninho de beleza!

BIZARRO KID - O RETORNO!


Podre de Chique


O Vieiralves renderia estudos fascinantes. Não de arquitetos, urbanistas ou sociólogos, mas de físicos. A teoria dos universos paralelos é facilmente comprovada na prática em qualquer ruazinha dessa incrível localidade - até porque tais ruazinhas tem uma engenharia de trânsito incompreensível e todas parecem levar ao mesmo lugar (que, coincidentemente, não era o lugar aonde você pretendia ir).

Vieiralves é como o País das Maravilhas seria se ficasse no Haiti. Ou Versalhes, às margens do Ganges. É palácio com bosta correndo na porta. Rainhas acenando seus ouros a párias. Fachadas luminosas que mal se enxerga, cobertas por teias de fios elétricos que há uns 30 anos já deveriam ter sido colocados debaixo da terra. Ternos e casaquinhos finérrimos, mas cuja única função parece ser a de aniquilar a elegância de seus donos sob baldes de suor, mesmo com a onipresença do ar-condicionado - já que as árvores foram todas arrancadas e o calor é aquele que nos faz pensar se o mundo já não acabou e o capeta tivesse feito test-drive por aqui.

Mas é tudo trés-chic, mon bien. A noite é plena de agitação e alegria. Do churrasquinho da tia ao sushi da patricinha, tem de tudo e pra todos (bem, pra todos que possam pagar).

Os barzinhos de lá dão uma bela empurrada na sua vida social. Aliás, na sua vida sexual também. Em estilos variados, mas todos projetados com proposta minimalista - bem, ao menos na proposta -, comportam facilmente 200 pessoas num espaço que mal acomodaria 20. Qualquer contato físico ganha contornos quase pornográficos: é impossível caminhar até o bar ou ao toilette sem roçar involuntariamete (ou não) em dúzias de pessoas. Em alguns casos a gente fica até sem jeito - sem saber se deveria puxar conversa, perguntar coisas como "Olá, Você Fuma? Curte Djavan?" - uma vez que a intimidade já foi estabelecida na marra.

Mas mesmo quando surgem situações potencialmente constrangedoras, nunca sai briga: no Vieiralves, todos são civilizadíssimos, vacinados e com pedigree. E que pedigree: tem boate ali que reúne, numa única noite, metade do PIB do Amazonas, dois terabytes de colunismo social e umas 5 mil páginas de processos de sonegação. Tudo regado a Johnny. Mítico!


Caminhando, Drogando-se e Seguindo a Oração


Lembra do bar que fechou? Do supermercado que sumiu? Da lojinha de badulaques da Vovó Arlinda e do ferro-velho do Tonhão, que deixaram de existir? Passa lá e vê o que aconteceu. Valendo uma balinha Xaxá de abacaxi que abriu no lugar:

A) Uma sapataria
B) Uma igreja evangélica
C) Uma ótica
D) Uma farmácia
E) Todas acima

Esquisito, né? Será que tem tanto doente cego precisando de sapato novo pra ir rezar? Manaus tem mais farmácias que padarias. Tem 5 óticas pra cada míope. Umas 200 sapatarias por quilômetro quadrado, e qualquer galpão que fecha vira igreja no dia seguinte. Teatro, mercadinho, floricultura e quitanda são artigos em extinção. Ou o fisco faz vista grossa pra determinadas atividades comerciais (sim, eu incluo as igrejas nessa categoria) ou Manaus está se antecipando a um Apocalipse de Filme B: a Incrível Invasão das Centopéias Crentes Míopes Hipocondríacas.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Quack!


"April Magolon, uma americana de 27 anos, está processando o parque da Disney World depois que uma pessoa fantasiada como o personagem Pato Donald supostamente agarrou seus seios (...) Ela quer uma indenização no valor de R$ 88 mil aproximadamente.

No processo consta que Magolon sente-se traumatizada mesmo dois anos após o ocorrido, e sofre de ansiedade, dores de cabeça, náuseas, suores frios, insônia, pesadelos e problemas digestivos"
. (UOL Notícias)

Agora eu tô com medo: aqui no Amazonas, pelo que o Hissa falou no debate, 58% das mulheres já foram vítimas de estupro. E em pleno primeiro mundo, a situação tá pior: nem Pato Donald tá deixando escapar, "patolando" mulheres indefesas.

Deixo aqui meus sentimentos de pasmo e indignação em nome desta jovem senhora, há dois anos sofrendo com o trauma de uma fantasia sexual extrema e indesejada. Mas, convenhamos: de um pato que não usa calças e mora com três sobrinhos, a gente não poderia esperar nada de bom.

*Só pra constar: Hissa Abraão provavelmente se referia aos dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), que apontam um aumento de 58% no número de registros (queixas) de estupros, entre janeiro a maio deste ano, em relação ao mesmo período ano passado (deu no Diário).

Se por um lado as vítimas estão perdendo o medo de denunciar esse tipo de violência - o que ajuda a punir os criminosos - por outro, os dados nos mostram o quanto o estado tem sido impotente para identificar e coibir uma prática que tem por escudos o machismo, o silêncio e uma conivência assustadora da sociedade. Bater ou mesmo violentar uma mulher, ao que parece, só é crime quando ela abre a boca. A punição dos canalhas deveria ser severa e exemplar, que é pros outros machões pensarem duas vezes, sabendo que se forem presos por estupro, o que espera por eles na cadeia não é nada muito melhor.

Agora, daí a dizer, num debate eleitoral, que quase 6 entre 10 mulheres do estado já foi vítima de violência sexual... haja Pato Donald à solta por aí.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Nada se cria, nada se perde...

Paulo Coelho diz como transforma ideias em ouro

“Mesmo depois de 135 milhões de livros vendidos, Paulo Coelho não para de inventar (...) De onde vêm essas ideias? O escritor mantém algum mistério, como convém a místico, (...) Mas as dicas estão aqui – por exemplo, manter viva a curiosidade e não matar a criação por uma preocupação obsessiva em ser original.”

Nelito Fernandes, revista Época

Então tá combinado: o próximo livro do Paulo Coelho será sobre vampiros adolescentes.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Descanse em Paz, é?



"Durante o enterro de Wallace Souza foram registrados vários assaltos no cemitério. Carteiras, celulares e cordões foram os principais alvos"

"A presença da multidão no cemitério também deixou rastro de destruição. Várias cruzes e túmulos foram quebrados pela população no tumulto"

(jornalista Mario Adolfo Filho, no Twitter)

Como vemos, o enterro de Wallace Souza foi marcado por uma justa homenagem da população à memória do morto.